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Automobilismo

Começo ruim de Lewis Hamilton merece uma contextualização

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Quem diria que em 2022 veríamos Lewis Hamilton fora das disputas por vitórias, brigando por posição com uma Haas e tomando volta do líder da corrida? A Fórmula 1 passaria por uma mudança profunda no regulamento e teríamos carros completamente novos, mas nem de longe era vislumbrado o desempenho pífio de um heptacampeão no auge da carreira.

Hamilton conseguiu um pódio no Bahrein graças aos abandonos da Red Bull – e foi só. Na Arábia Saudita, um discreto P10, e na Emilia-Romagna, apenas um P13 com o companheiro George Russell em P4. O GP da Austrália seguiu a tendência momentânea da temporada: Russell na frente de Hamilton – com direito a pódio do jovem piloto. Um novato batendo o supercampeão é algo a ser destacado.

Podemos concluir que a era dourada de Sir Lewis Hamilton acabou, que os seus sete títulos são creditados exclusivamente aos carros da McLaren e da Mercedes por ele guiados e que o seu talento não é tão grande assim?

A resposta para tais questionamentos é não. Hamilton atravessa uma fase ruim, fato inegável. Mas isso não corrobora com as críticas infundadas acerca da sua capacidade. Para elucidar o fato, deve-se contextualizar as mudanças da F1 para a atual temporada – a história da categoria dá pistas bem esclarecedoras nesse sentido.

Primeiro: a Fórmula 1 passa por mudanças de regulamento o tempo inteiro. Se a mudança é profunda a ponto de gerar novas situações, a intenção da categoria foi alcançada, pois a motivação é justamente essa. Predomínios longos de equipes e pilotos podem diminuir o interesse do público em acompanhar o esporte, e a F1 depende da audiência para continuar. A maneira mais eficaz de puxar o tapete dos dominadores é mudar o regulamento.

Quando a Williams sobrou em 1992 e 1993 com um carro dominado pela eletrônica, a FIA baniu para 1994 a suspensão ativa, o freio ABS e o controle de tração – equipamentos eletrônicos que formavam a base daquelas que Ayrton Senna denominou de ‘’Williams de outro planeta’’. O resultado foi o fim do domínio gigantesco da equipe inglesa e ascensão da Benetton com Michael Schumacher, campeão nas duas temporadas seguintes.

O mesmo cenário se repetiu em 2005, quando o novo regulamento proibiu a troca de pneus durante as corridas. Tal medida visava acabar com o predomínio da Ferrari e de Schumacher, pois o heptacampeão costumava emendar voltas mais rápidas antes das paradas para reabastecer e trocar os pneus. Aquela temporada foi desastrosa para a Ferrari, que viu o campeonato ser disputado por Fernando Alonso e Kimi Raikkonen, da Renault e da McLaren – ambos usavam pneus Michelin, que se adaptaram melhor ao novo regulamento.

A própria era de predomínio de Hamilton, que começou com o título de 2014, marcou o fim da hegemonia da Red Bull no tetracampeonato de Sebastian Vettel. E, vejam só, foi após a introdução do motor V6 híbrido, substituindo o motor V8. Para muitos, uma nova F1 foi inaugurada desde então. Vettel nunca mais foi campeão, mas fez boas temporadas na Ferrari – foi vice em 2017 e 2018.

Lewis Hamilton não foi heptacampeão por acaso. Se teve em mãos um carro superior ao resto do grid, ele soube apresentar o diferencial quando duelou em 2014 e 2015 com Nico Rosberg – uma das grandes rivalidades da história da F1. Bater um tetracampeão como Vettel também não é para qualquer um.

Também parece claro que a Mercedes errou a mão no W13, entregando um carro com muitos quiques e menos veloz. Ao tentar fazer diferente e optar pela ousadia, a equipe arriscou bastante e sabia dos riscos. Acabou colhendo resultados decepcionantes – não existe a menor perspectiva desse quadro se reverter.

A mudança de regulamento produziu um carro bem modificado para 2022 com a clara intenção de embaralhar o grid. Um novo estado de coisas poderia encerrar a hegemonia da Mercedes, o que parece ser a tendência. É uma situação que já se viu no passado com outros campeões, e nem por isso o talento de nomes como Ayrton Senna, Michael Schumacher e Sebastian Vettel foram desprezados. Não se deve fazer o mesmo com Lewis Hamilton.

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