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Automobilismo

Sensíveis diferenças

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Fazia tempo que eu não via uma corrida de Fórmula 1 tão monótona quanto essa do Azerbaijão. Escrever exclusivamente sobre ela é tarefa inglória, pois pouquíssimas coisas foram dignas de nota. Sergio Pérez venceu, ganhou em mais um circuito de rua e diminuiu a vantagem no campeonato do seu companheiro de Red Bull e atual bicampeão, Max Verstappen.

Foi um tédio monstruoso. Aí eu lembrei: tem Indy logo mais. O GP do Alabama nem foi dos mais emocionantes, mas foi um espetáculo esportivo mil vezes mais interessante que a corrida em Baku. Uma etapa com muitas variáveis, o drama interminável de Romain Grosjean na busca pela primeira vitória que teima em não acontecer e a disputa do francês com o vencedor Scott McLaughlin.

Um contraste brutal. Depois de algum tempo pensando em coisas relacionadas aos dois eventos, lembrei de dois textos que retratam cenários completamente adversos. Chega a ser engraçado, até.

O primeiro é intitulado Schumacher e a Indy, de Flávio Gomes – a quem eu tenho uma tremenda admiração. Ele conta a escolha feita entre cobrir a Indy e a F1, sua preferência pela última e a assertividade da escolha ao ressaltar a qualidade da principal categoria do automobilismo mundial. A Indy não despertava a menor empolgação, e a F1 proporcionava o melhor desse esporte. Além disso, Flávio falou do GP da Espanha de 1996 vencido por Michael Schumacher, que fez uma das melhores corridas de sua brilhante carreira. Ganhou em plena chuva guiando um Ferrari bem meia boca contra as superiores Williams e Benetton de Damon Hill e Jean Alesi.

Em suma, era uma F1 repaginada e cheia de grandes emoções frente a uma Indy sem o mesmo brilho. Nem os seis pilotos brasileiros correndo por lá atraíram Flávio Gomes a escolher os ovais americanos e deixar Silverstone, Mônaco e Spa de lado.

O segundo é intitulado O ex-vulcânico Verstappen se contamina pelo pragmatismo corporativo da F-1, de Lito Cavalcanti, o melhor jornalista especializado em automobilismo do país – chamado por mim e tantos de outros de Mestre Lito. No texto, Lito comenta as duas corridas mais importantes para a F1 e Indy: no caso da primeira, o GP de Mônaco, e na segunda, as 500 milhas de Indianápolis. Junto com as 24 horas de Le Mans, elas formam a chamada tríplice coroa do automobilismo mundial.

O ano era 2019. Em Mônaco, vitória previsível de Lewis Hamilton que, mesmo com pneus desgastados, segurou Max Verstappen até o fim. Corrida monótona e entediante, pois as ruas do principado não permitem uma corrida interessante com os carros atuais da categoria cada vez mais grandes. Já em Indianápolis, vitória espetacular de Simon Pagenaud com míseros 0s208 de vantagem para o segundo colocado. Uma prova de tirar o fôlego. Quanta diferença para Mônaco.

Ontem não foi diferente. A pista de Baku não configura problema algum: ela sempre rendeu corridas emocionantes justamente pelas suas características. Um circuito de rua com uma reta quase interminável e dois setores velozes permitem uma margem boa para arriscar uma ultrapassagem. Além disso, as entradas do Safety Car podem mudar a história da corrida. Foi assim em 2018, quando o incidente entre Max Verstappen e Daniel Ricciardo gerou um quadro que tirou uma vitória certa de Sebastian Vettel para cair no colo de Lewis Hamilton. Foi assim em 2021, quando o pneu de Verstappen furou no apagar das luzes e a relargada espalhafatosa de Hamilton – ele passou reto por não conseguir frear – deu a Perez sua primeira vitória na Red Bull.

Pois bem, ele venceu a segunda no Azerbaijão ao aproveitar uma situação de corrida. A RBR comeu mosca e parou Verstappen antes da entrada do SC, decisão que resultou em uma queda da liderança para a terceira posição. Perez parou no momento certo, assumiu a liderança e não foi mais atacado. Venceu com méritos inquestionáveis e galgou mais alguns degraus na luta pelo título – isso se tivermos uma.

No mais, uma corrida monótona. A Pirelli escolheu a gama mais macia de pneus para a corrida, mas não contava com um desgaste acima do esperado. Com isso, os pilotos anteciparam a parada e foram até o fim com o composto duro. O resultado? Quase zero de disputa com todo mundo tirando o pé para chegar até o fim sem parar mais uma vez.

Não me lembro de outra corrida tão ruim quanto essa. Foi tenebrosa a ponto de deixar o triunfo de Sergio Pérez em segundo plano. Uma pena.

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