Nuances do caso Christian Horner

Assim que tomei conhecimento da situação envolvendo Christian Horner e a acusação de suposto comportamento inadequado, optei pelo silêncio até tudo ser esclarecido. Alguns jornais e profissionais da área, desprovidos de qualquer temperança e zelo pelo próprio trabalho, já emitiram opiniões definitivas logo depois. Não lembraram – ou nunca aprenderam – que para além de acusação e defesa existem pais, mães, filhos, filhas, maridos ou esposas. Estamos falando de pessoas como nós.

Não que a minha opinião vá mudar muita coisa no curso dos acontecimentos. Longe disso. Mas eu decidi não colaborar com esse absurdo. Até a investigação ser concluída, tudo não passou de boataria da pior espécie. A desumanização na Fórmula 1 deu nisso aí. Tudo virou dramaturgia, herói versus vilão, enfim, Hollywood em estado puro. Como fã do esporte e jornalista, sempre defendi que os fatos vêm primeiro. Opiniões são válidas, mas elas por si não têm o mesmo peso.

Pois bem, ao fato: a Red Bull informou que a investigação foi concluída e a denúncia contra Christian Horner foi rejeitada, portanto, ele é inocente. Qualquer coisa além disso é opinião. O procedimento envolveu pessoas que não trabalham na empresa justamente para não haver conflito de interesses ou algo semelhante que colocasse em xeque a imparcialidade na sua condução.

Esse detalhe certamente será ignorado por quem acusa a empresa de inocentar Horner de maneira injusta. É fácil de entender: essas pessoas não dão a mínima para a luta contra o assédio ou para a verdade dos fatos. Não interessa a investigação, a comprovada inocência, nada. A mera acusação já bastou, e Horner é culpado porque elas querem. No fundo, nem disfarçavam a torcida para um homem ter sua vida destruída e uma mulher ter passado por uma situação tenebrosa. Seja por mera antipatia motivada por clubismo ou feminismo enragé, já tinham suas próprias sentenças antes dos fatos aparecerem.

E não me venham com essa de que Horner escapou de uma demissão por ser homem e privilegiado. O caso Daniel Alves e o julgamento no STJ para o cumprimento de pena no Brasil por Robinho demonstram o contrário. Ambos ex-jogadores ricos e famosos, ambos condenados pela Justiça por estupro. A sociedade demonstra não aceitar o assédio, o abuso e o estupro como em outros tempos. No caso de Horner, ele sequer foi acusado judicialmente. Do mesmo modo que as mulheres vítimas de violência merecem respeito, os homens vítimas de acusações inverídicas não podem arcar com as consequências de algo que não fizeram.

Bom, Horner é inocente. O que vai acontecer acerca da acusação, se ele irá processar os jornais que trataram boato como fato e a repercussão da coisa na própria Red Bull como empresa, aí são variáveis para o futuro responder. Vamos aos impactos esportivos agora.

Para a Red Bull Racing, um alívio tremendo. Horner é alma da equipe, está lá desde o começo e liderou o time de forma brilhante em todas essas temporadas. São 7 títulos de pilotos e seis de construtores. Para muitos, é o melhor chefe de equipe da F1. Sua saída representaria um impacto gigantesco para o time taurino, e mesmo sucedido por alguém tão competente quanto ele, a continuidade do sucesso das últimas temporadas seria incerta. Não por acaso os mecânicos comemoraram o anúncio do resultado das investigações.

Aos times rivais, só resta tentar um trabalho melhor. A RBR nada de braçada neste regulamento por ter um gênio como Adrian Newey nas pranchetas. Com a aerodinâmica sendo crucial nas regras atuais, acertar a mão no carro e compreender bem o efeito solo seriam passos essenciais para o sucesso. Enquanto as demais equipes do grid ainda tentam encontrar um norte, a escuderia austríaca segue inabalável no topo. Mas por que destacar isso diante da permanência de Horner? Bom, a saída do chefe certamente provocaria um efeito dominó nos taurinos. Some isso ao fato da banda austríaca da empresa não enxergar a F1 com os mesmos olhos do antigo dono, Dietrich Mateschitz. Seria fatal para a RBR e excelente para o resto do grid.

O que ainda pode sair desse caso é, como eu disse, algo para o futuro responder. Até lá, temos um único fato: Christian Horner foi declarado inocente por uma investigação externa contratada pela Red Bull. O resto das especulações é desimportante.