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Automobilismo

Fórmula Choro

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Você certamente já lançou mão desse termo em alguma ocasião da sua vida. Quando alguém faz birra injustificada, geralmente esportiva, por algo adverso que aconteceu, diz-se que fulano está chorando. É o tal mimimi, péssimo hábito daqueles que não sabem perder ou ter alguma vontade não atendida. É choro.

Não gosto de utilizar muito essa expressão, julgo pouco criativa ou mesmo limitada. Mas, em certos momentos, é o que dá para fazer. A Fórmula 1 está virando a Fórmula choro, composta de pilotos e fãs que não sabem perder ou aceitar a derrota dos seus favoritos.

Felipe Massa deu a entender que tentaria algo nos tribunais para reaver o título de 2008. Valendo-se da entrevista recente de Bernie Ecclestone e a confissão de que a FIA sabia tudo sobre a maracutaia do Singapuragate, ele quer ser campeão no tapetão. Diz brigar por justiça. Sério? Um campeonato com 18 corridas como aquele se perde apenas em uma?

Não vou citar as famosas trapalhadas da Ferrari naquela temporada que prejudicaram Massa para elucidar o questionamento anterior. Fico com o GP da Bélgica: Hamilton venceu a corrida, mas foi punido e caiu para terceiro. O motivo? Ter cortado a chicane e, segundo os comissários, levado vantagem ao repassar Kimi Raikkonen. Ora, Hamilton tirou o pé e devolveu a posição logo depois de sair da pista. O que mais os comissários queriam? Foi uma penalização bem contestável.

Se levarmos a justiça esportiva ao pé da letra, Hamilton deveria ter sido mantido em primeiro naquela corrida. E nada do que aconteceu em Singapura afetaria a disputa pelo título. A trambicagem da Renault ficaria restrita aos seus responsáveis e aquele campeonato não seria motivo de contestações posteriores. Surpreende-me muito que Massa ainda queira levar o assunto adiante nos tribunais passados quinze anos dos supracitados acontecimentos. Ganhou a fama de chorão a troco de nada.

Ao mesmo tempo que Massa anunciou sua querela pelo título perdido, saiu uma informação com conteúdo similar: um abaixo-assinado pedindo a anulação do GP de Abu Dhabi de 2021 e a entrega do campeonato daquele ano a Lewis Hamilton. Tal iniciativa já conta com mais de 100 mil assinaturas.

Bom, a petição já nasceu equivocada. Se aquela corrida fosse anulada, Max Verstappen continuaria campeão mundial nos critérios de desempate. Com ou sem a etapa de Abu Dhabi, ele levaria o título da mesma maneira. É uma piada de péssimo gosto, fato. Mas não dá para não abrir um sorriso com tamanha ignorância desses indivíduos.

Muita gente diz que Hamilton foi roubado. Até onde se sabe, ninguém comprovou dolo algum por parte de quem quer que seja para tirar o octacampeonato dele. Se Hamilton foi prejudicado com a decisão de Michael Masi no apagar das luzes, Verstappen também tem do que reclamar pela temporada inteira. A abertura no Bahrein já foi assim: os limites de pista foram solenemente desrespeitados por Lewis várias vezes sem sofrer punição algum, enquanto Max teve de ceder posição ao ir para fora da pista e passar o rival depois de uma trancada de porta. No GP do Reino Unido, foi jogado para fora por Lewis, que recebeu ridículos 10 segundos de punição – tão patética que ele venceu a corrida depois. Se o resultado fosse outro em Silverstone, dificilmente veríamos aquela disputa insana pelo título até a última corrida.

Aconteceram outras coisas naquela temporada que demonstram como o regulamento foi descumprido do começo ao fim, mas não me recordo agora. O certo é que não dá para falar em título roubado ou com asterisco se você pega apenas um recorte conveniente e ignora o resto. Não se ganha ou se perde um campeonato em uma corrida, um erro grotesco ou uma estratégia malsucedida. São 23 corridas. Ninguém ganha ou perde por acaso.

Essa babaquice de rever um resultado final de título, além de abrir um precedente para se fazer o mesmo com todos os 72 da história, é uma insanidade típica de quem não sabe perder. O esporte é feito de alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas, euforias e melancolias. Mas o que deveria ser comum a todos é saber encarar os resultados com dignidade e honra. A F1 já tem muitas preocupações – bem mais importantes que revisionismos de resultados pretéritos.

Foto: Reprodução/ Motorsport

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