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Automobilismo

Rafael Lopes e a grenalização da Fórmula 1

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Rafael Lopes

Virou senso comum apontar a ‘’futebolização’’ da Fórmula 1. É a maneira mais fácil de se apresentar como uma voz imbuída de autoridade para falar da categoria. E, claro, mostrar as credenciais de imparcialidade. Assistam os principais canais do YouTube e leiam os textos dos principais jornalistas que falam da F1 e tirem suas próprias conclusões.

Eu concordo com tal diagnóstico. A F1 atual está dividida entre duas torcidas: a de Lewis Hamilton e a de Max Verstappen. Se você não está em um lado, automaticamente será associado ao outro. Parece-me muito com o clássico grenal, que coloca frente a frente Grêmio e Internacional – utilizo o exemplo por ser um colorado doente e confesso. O paralelo é válido.

Mas, o que não deixa de ser irônico, tal classificação é utilizada por quem mais coloca lenha na fogueira. A imparcialidade mal encenada é mais constrangedora ainda. O sr. Rafael Lopes é o exemplo perfeito. Sua predileção inconfessa por Lewis Hamilton cega-o totalmente em suas análises e comentários acerca da F1. Até certo ponto a coisa teve a sua graça, mas a sua desconfiança acerca das ameaças de morte relatadas por Michael Masi após a corrida decisiva da temporada passada foi longe demais.

Masi realmente errou naquele fatídico GP de Abu Dhabi, mas não foi o único erro na corrida, tampouco na temporada. O simpático australiano também prejudicou Verstappen e beneficiou Hamilton em 2021. Mas a autorização do momento lucky dog – que não aconteceria se não fosse a chiadeira da Red Bull – que permitiu o título do obstinado holandês ficou como a lembrança mais vívida da sua passagem na FIA como diretor de provas.

Bom, que Masi se mostrou incompetente e não poderia ficar mais um segundo sequer em um cargo tão importante, isso é fato. Mas os seus erros não justificam ameaças de morte contra ele ou sua família. Gostar ou não da figura é uma escolha que vai de cada um. O que não se pode admitir é a relativização de um fato tão grave como esse. Sim, eu acredito em Masi. Qualquer dúvida é só perguntar para Nicholas Latifi se os ‘’fãs’’ são capazes ou não de ameaçar alguém pelo mesmo motivo.

É realmente impressionante como a palavra de quem não se gosta pode ser coloca em xeque com a maior facilidade do mundo. A convicção de Masi estar mentindo é sólida o bastante para reverberá-la como fato inquestionável. Mas não existe a menor dúvida quando o alvo é um dos seus. Aí não. Como gostam de falar, a palavra da vítima basta, não se pode duvidar de quem sofre com isso, etc.

Rafael Lopes nem disfarça a torcida por Hamilton e a antipatia por Verstappen. Ele tem o direito de torcer por quem quiser? É óbvio. Só que distorcer a realidade dos fatos para reverberar uma narrativa tosca – e inverídica – é demais. Questionar a palavra de um cidadão quando ele diz ter sofrido ameaças de morte passa do limite da torcida. Não é a primeira demonstração de parcialidade.

O duplo padrão fica visível aos olhos da cara quando algo menor que diz respeito ao lado defendido acontece. Torcedores de Verstappen queimaram um boné da Mercedes – uma atitude que considero estúpida e de péssimo gosto. O sr. Rafael Lopes considerou o fato como o Apocalipse da F1, uma demonstração extrema de ódio. Interessante. Ameaça de morte pode ser colocada em xeque, mas uma babaquice horrorosa ganha uma dimensão maior.

É bonito apontar o dedo para os outros, falar que fulano de tal é odiento ou partícipe da futebolização da F1. Muito bonito. Mas seria melhor ainda se cada um colocasse a mão na consciência e pudesse perceber como está contribuindo para tal quadro indesejado. Isso não serve só para Rafael Lopes e cia: serve para todo mundo.

Quem não se lembra da Glenda Kozlowski justificando a torcida pelo octacampeonato de Lewis Hamilton por um suposto comportamento mal-educado de Max Verstappen? É sempre assim: Verstappen apresentado como o demônio terrestre, o mimado arrogante e imaturo em contraposição a um Hamilton representando o bem supremo. Minha defesa por parte do atual campeão mundial é pelo fato da narrativa difamatória contra ele ter ganhado adeptos e insufladores na dita grande mídia, de quem se espera sobriedade, o que não vi até agora.

Pela milionésima vez: cada um pode torcer para quem quiser. Do que seria da F1 sem a torcida, afinal? O esporte é isso mesmo. Mas promover narrativas fantasiosas e negar a realidade arrotando uma imparcialidade que não existe é demais. Pior: contestar ameaças de morte por pura paixão esportiva. A grenalização da F1 é cada vez maior e os responsáveis são bem conhecidos.

 

Este artigo de opinião é uma visão do autor e não representa necessariamente a visão do site Vai Que Tô Te Vendo

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