Entre em contato conosco

Fórmula 1

Segunda Bandeirada #02: A marca da lenda

Publicado:

em

Mais um recorde foi dinamitado por Max Verstappen. Com a vitória em Monza, ele chega à décima vitória seguida na temporada, uma a mais que Sebastian Vettel na temporada de 2013. O tetracampeão empilhou nove triunfos consecutivos naquele ano. Verstappen consegue dez na mesma Red Bull.

É impressionante. Nessas dez corridas, Verstappen venceu em todo tipo de pista. Nos circuitos travados, como Mônaco, Hungria e Holanda, e nas retas intermináveis de Spa e Monza. Em todos os GPs disputados desde o Azerbaijão, só deu ele. E absolutamente nada indica qualquer mudança de cenário.

Ele vence em qualquer cenário. Larga na pole? É só cozinhar o galo e gerenciar a corrida de forma metódica, como fez na maior parte das corridas. Começa lá atrás? Sem problemas, pois o seu talento excepcional permite uma atuação impressionante como a de Miami – um stint longo com pneus duros para tirar uma diferença considerável para o líder da corrida. Verstappen triunfa sem a menor ameaça, faça chuva ou faça sol – literalmente.

Em Monza, a pole ficou com Carlos Sainz. Piloto da Ferrari, correndo em casa e com o apoio dos barulhentos e apaixonados tifosi. O espanhol fez jogo duro, guiou magistralmente e manteve a dianteira por muito tempo. A sensação que este SF-23 passava era a de ser inalcançável nas retas, pois nem o disparado melhor carro do grid conseguia a ultrapassagem em um circuito facilitador da mesma. Sainz ficava no meio da pista, e quando necessário, tomava a linha de dentro na primeira perna da variante del Rettifilo. Pronto. A ultrapassagem era completamente inviável.

Aí que entra a perspicácia dos gênios, os pilotos que pertencem ao hall dos maiores. Verstappen viu a inviabilidade da ultrapassagem com aquele quadro e continuou no mesmo ritmo sem atacar Sainz de maneira mais incisiva, esperando os pneus do piloto ferrarista irem para as cucuias mais cedo que o resto do grid, como de costume. E foi justamente o que aconteceu na volta 15: depois de tanto tempo guiando no limite, Sainz sentiu o desgaste, vacilou na curva 1 e travou os pneus traseiros com gosto. Coube a Verstappen apenas colocar de lado e tomar a dianteira na segunda variante do circuito.

Depois disso, distância confortável aberta sem problema algum para o segundo colocado. Quando a oportunidade aparece, Verstappen aproveita. Eis a diferença do piloto de alto quilate: no que depende dele, a coisa está resolvida. Se a Red Bull entregou um foguete de carro, tem o cara certo para levá-lo ao topo. A Williams de 1994, 1995 e 2003 e a McLaren de 2007 mostram que nem sempre o melhor carro é suficiente para vencer. No caso do time de Sir Frank Williams, faltou piloto, e no da icônica equipe papaia, uma conhecida querela entre dois talentos absurdos foi responsável por dar a taça de bandeja a Kimi Raikkonen e fazer a alegria de Maranello.

Recordo o óbvio ululante para refutar mais um argumento comumente utilizado para desqualificar Verstappen. Aqui no Brasil, ele é tido como Schumacher 2.0: antipático, sujo e malquisto por todo mundo. A similaridade com o alemão existe: ele é um sujeito reservado e mesmo tímido, que se preocupa apenas em ser o melhor no que faz – igualzinho Michael. Como o fingimento é uma virtude em Pindorama, pintaram o holandês como vilão de gibi a troco de nada. É patético.

Toto Wolff, chefe da Mercedes, disse não ligar para o recorde, que números são para a Wikipédia e ninguém lê ela. Bom, quando Lewis Hamilton conquistou seu sétimo titulo mundial na Turquia e dividiu com Michael Schumacher a honra de ser o maior campeão de todos os tempos, ele fez questão de entrar no rádio e relatou ser um privilégio participar daquele momento histórico. Ali os números importavam. Ali todo mundo lia a Wikipédia.

É difícil saber perder na Fórmula 1, ainda mais quando se acostuma a vencer por muito tempo. Não é privilégio de Toto. Mas vamos colocar os pingos nos is. Os recordes estão lá para serem quebrados, já dizia Schumacher. Quem arrisca a vida durante uma corrida e anda a 300 km/h em círculos não pensa em outra coisa a não ser em vencer. Se não nesta corrida ou nesta temporada, corre por um lugar ao sol nas próximas. As grandes marcas imortalizam os gênios, eternizam os esportistas fenomenais. Dizer que ninguém liga para os números é um contrassenso.

A vitória de Verstappen em Monza foi histórica. Eternizou uma marca com a sua marca, a marca de uma lenda do volante. Não dói reconhecer isso, exceto para quem é mais fã de piloto que do esporte.

 

Foto: Reprodução F1 Mania/ XPB Images

Compartilhe esta publicação
Clique para Comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.