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Automobilismo

Mônaco não pode sair da Fórmula 1

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Após um GP da Espanha com dobradinha da Red Bull e uma vitória incontestável de Max Verstappen, a Fórmula 1 chega ao principado de Mônaco. O atual campeão vem de três vitórias consecutivas, assumindo a liderança do campeonato pela primeira vez neste ano. Contribuiu para isso o inesperado abandono de Charles Leclerc, então líder da corrida e também do campeonato.

O charmoso circuito monegasco é um capítulo à parte da categoria: seu percurso é de 3,337 km – o menor de todas as pistas utilizadas na F1. Além disso, ele é bastante estreito, exigindo uma concentração absurda dos pilotos em suas 78 voltas. Suas curvas são muito fechadas, o que torna a ultrapassagem uma tarefa hercúlea para quem se arrisca a tal ato.

Se em outros tempos já era complicado correr em Mônaco, imagine agora quando se tem carros maiores e mais pesados. Tal quadro faz com que muitos pilotos, jornalistas e fãs questionem a continuidade do circuito no calendário da F1, pois a corrida entrega muito pouco em espetáculo. Quem faz a pole tem meio caminho andado para vencer – ao menos é o que se pensa.

O tema é controverso, mas a minha opinião é clara: Mônaco é um circuito obrigatório para a Fórmula 1. Pelo charme, peso histórico e os próprios aspectos da pista que alguns consideram bastante negativos. Pode não ser uma corrida das mais emocionantes e recheada de ultrapassagens, mas ele trouxe e traz em seu bojo capítulos inesquecíveis para o amante do automobilismo. E com o novo regulamento da F1, muitos dos seus problemas podem ser amenizados.

É fato que os carros deste ano estão mais pesados, algo que diminui a velocidade e torna a guiada mais difícil. Mas a mudança no regulamento e suas consequentes alterações na aerodinâmica tornaram as ultrapassagens bem mais corriqueiras durante as corridas. A corrida em Barcelona foi uma prova disso: tida como uma pista pouco propícia para disputas emocionantes, ela acabou entregando disputas interessantes e escaladas de pelotão – no primeiro caso, destaque para o duelo entre George Russell e Max Verstappen, e no último, a chegada de Lewis Hamilton em quarto depois de cair para penúltimo.

Isso não significa uma facilidade gigantesca para ultrapassar em Mônaco. Mas ajuda a diminuir a turbulência provocada pelo carro que está na frente. A FIA pensou em todas essas mudanças para 2022 com o objetivo de gerar mais equilíbrio e imprevisibilidade no grid. Em um circuito estreito e travado como Mônaco, onde qualquer erro significa o fim da linha, fica sim aberta a possibilidade de uma equipe do meio do pelotão triunfar.

Além disso, como imaginar uma temporada da F1 sem o GP de Mônaco? Quantos capítulos maravilhosos ficariam pelo caminho? Quantas corridas antológicas seriam colocadas no limbo do esquecimento com a descontinuidade da sua realização? Posso ser acusado de pachequismo, pois o maior vencedor da prova é Ayrton Senna. Mas seria uma baita injustiça com a memória do tricampeão – e com todas essas histórias memoráveis – não ter a disputa no circuito vencido seis vezes por ele.

O campeonato do ano passado, tido como um dos mais emocionantes da história, teve em Mônaco um capítulo importante. Com uma corrida desastrosa da Mercedes e um discreto sétimo lugar de Lewis Hamilton, Max Verstappen venceu sem sustos e assumiu pela primeira vez a liderança do mundial. Isso depois de Charles Leclerc ter feito a pole, mas não largou por problema no câmbio. Para uma corrida tida como pouco emocionante, o seu desfecho teve uma influência na disputa pelo título.

Uma das corridas memoráveis que assisti foi o GP de Mônaco de 2019. O heptacampeão segurou Max Verstappen mesmo com pneus no limite, mostrando o seu talento indiscutível. Naquela corrida, o ambiente era de consternação pela morte de Niki Lauda, tricampeão e lenda da F1. Vitória de Lewis Hamilton, que prestou sua homenagem no capacete. Niki foi o responsável por convencê-lo a trocar a McLaren pela Mercedes, atitude diretamente responsável pela sua transformação em um piloto multicampeão.

Sabemos que o Liberty Media adota a lógica do ‘’pagou, levou’’. Só isso explica, por exemplo, o bizarro GP da Arábia Saudita, uma pista de alta velocidade e tão ou mais estreito que Mônaco. O grupo que administra a categoria não vê problema algum em realizar corridas em países nada democráticos, desde que o dinheiro seja generoso o bastante. Excluir Mônaco do calendário abre o precedente para outras pistas igualmente históricas terem o mesmo destino. Já pensaram na possibilidade de ver Interlagos de fora?

Mônaco tem o seu charme, o seu peso e a sua relevância histórica para a F1. Não há como negar isso. Pedir a sua retirada ao mesmo tempo que se critica a preponderância da eletrônica sobre o manual é um paradoxo sem tamanho. Se há um circuito que o braço conta muito, esse circuito é o monegasco. São inúmeras histórias protagonizadas nas ruas do principado. Que venham mais e mais. O próximo domingo trará uma delas.

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