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Automobilismo

Leclerc precisa lidar com a inevitável pressão pelo título

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Em Melbourne, na Austrália, a lua de mel para Charles Leclerc e a Ferrari parecia não ter fim. O monegasco conquistava a segunda vitória na terceira etapa da temporada, abria confortáveis 46 pontos de vantagem para Max Verstappen e apresentava um desempenho tido como inalcançável. A coluna de Fábio Seixas no UOL resumiu o sentimento de então: não havia concorrência para a Ferrari.

Toda essa euforia foi por água abaixo em duas corridas. Verstappen mostrou o talento de um campeão mundial e venceu na Emilia-Romagna e em Miami, a Red Bull parece ter encontrado o problema dos abandonos anteriores e a diferença outrora confortável diminuiu bastante. A pressão mudou de lado, passando agora para Leclerc, com a capacidade do carro da Ferrari colocada em xeque.

É compreensível. Um campeonato mundial de F1 representa muito. Para Leclerc, seria uma conquista inédita. Para a Ferrari, o retorno do título que não para em Maranello desde 2007. Depois de anos comendo poeira da Mercedes e sem ter um carro competitivo, os engenheiros da equipe acertaram a mão ao entregar uma máquina que a permite sonhar com dias gloriosos. A expectativa gera pressão, que por sua vez pode tornar o clima tenso.

Verstappen está livre disso: conquistou seu título em 2021 e guia um ótimo carro. Não tem mais a responsabilidade de cravar seu nome no grupo seleto de campeões, e com o RB18 oferecendo ao holandês todas as possibilidades de competir em alto nível, sua pilotagem só tende a melhorar. O batismo de fogo já passou. Tudo o mais é bônus.

Os amantes do automobilismo conhecem a mística que envolve a Ferrari. Para muitos, é mais que uma escuderia, como se fosse um time de futebol. Na Itália, a Ferrari equivale à Seleção Italiana, sendo carinhosamente chamada de rossa. Guiar um carro da equipe do comendador Enzo tem um significado totalmente diferente de dirigir outro do restante do grid. Basta olhar para as arquibancadas nas corridas mundo afora e perceber a quantidade de bandeiras da Ferrari.

Leclerc já sentiu a pressão no GP da Emilia-Romagna, quando errou sozinho em uma zebra do circuito e beijou o muro ao ensaiar uma perseguição a Sérgio Perez, da Red Bull. Ele estava em terceiro, ficaria facilmente com o pódio e não deixaria Verstappen encurtar muito a diferença entre ambos. Mas na afobação de ir além, acabou jogando o pódio no lixo e chegou apenas na sexta colocação. Com um pouquinho de malícia, o monegasco não arriscaria tanto a troco de nada, pois a superioridade da Red Bull era visível, com uma chance enorme de tomar o troco de Perez em uma possível ultrapassagem.

Em Miami, Leclerc nada pode fazer. As longas retas do circuito americano deram uma vantagem significativa aos carros da Red Bull, e Max Verstappen demonstrou mais uma vez talento e arrojo ao ultrapassar os dois pilotos da Ferrari para vencer a prova. Antes existia uma margem confortável pelos dois abandonos do atual campeão. Pois bem, essa margem acabou. Qualquer erro a partir de agora pode fazer muita falta na disputa pelo campeonato.

Que ninguém duvide do talento absurdo de Charles Leclerc. Ele mostrou isso em 2019, quando chegou em Maranello como segundo piloto, desbancou um tetracampeão no duelo doméstico e venceu duas vezes no ano. No GP da Itália daquele ano, Leclerc aguentou firme a pressão das Mercedes de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas para dar a Ferrari a vitória em Monza que não vinha desde 2010. A guiada arrojada de um jovem piloto segurando um então pentacampeão que dirigia o melhor carro do grid foi simplesmente fantástica.

A Ferrari demonstra ter potencial para ser o melhor carro do grid no decorrer da temporada – como a Mercedes conseguiu na reta final do campeonato passado. No cockpit, dois pilotos de alto quilate. Um deles tem a responsabilidade de conduzir a escuderia mais tradicional do automobilismo ao topo. Não é tarefa simples, mas cabe ao monegasco Charles Leclerc devolver aos tifosi os dias de glória. É algo que ele precisa lidar para chegar ao topo.

Só o tempo responderá se Leclerc será campeão. O que parece certo é que para chegar lá, o monegasco precisa colocar todo o seu talento na pista e lidar com a responsabilidade de liderar a escuderia mais tradicional da F1. Michael Schumacher ficou quatro temporadas sem ser campeão pela Ferrari – mesmo já sendo bicampeão – até chegar ao GP do Japão de 2000 e tirar um piano das costas. Agora a tarefa é de Charles Leclerc.

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