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Automobilismo

“Interlagos me devolveu tudo e zeramos as contas”, diz Barrichello

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Essa frase que dá título a este texto demonstra como Rubens Barrichello se sentiu após a conquista do bicampeonato na Stock Car Pro Series no último domingo (11) no icônico circuito de Interlagos.

Durante sua trajetória no esporte a motor, Rubens só conseguiu ganhar no famoso circuito paulistano apenas uma vez, em 1989, quando corria de Fórmula 3. Depois disso, nunca mais conseguiu vencer novamente lá. Entretanto, não faltaram tentativas. Por alguma razão não foram concretizadas. Na época de Fórmula 1, enquanto corria na Ferrari, por 4 vezes abandonou a prova por problemas em seu carro, tendo apenas um 2º lugar como melhor resultado durante a sua estádia na equipe italiana no circuito supracitado. 

Em 2009, enquanto disputava o título daquela temporada com Jenson Button e Sebastian Vettel, a vitória até passou perto, mas um furo de pneu acabou com os planos do brasileiro para conseguir o tão sonhado triunfo na pista que mais adora correr. Em 2012 ele fica sem vaga no grid da Fórmula 1 e tenta a IndyCar para dar continuidade à carreira. 

Não tendo muito sucesso na categoria americana, Rubens chega à Stock Car – categoria máxima do automobilismo brasileiro. Mesmo com a mudança de categoria, o sonho de subir ao lugar mais alto do pódio em Interlagos ainda permanecia e por várias vezes a chance passou muito perto. A primeira oportunidade foi em 2016 em Interlagos na Corrida do Milhão daquele ano. Rubens marca a pole para aquela corrida. Nesse ano ele disputou o campeonato com Felipe Fraga e lutou até o fim com o jovem de Tocantins que acabou levando a melhor naquela ocasião em uma corrida muito disputada.

Reprodução/Stock Car

No fim daquele mesmo ano, tentando superar uma diferença de pontos grande para tentar – pela primeira vez ser bicampeão – Rubens tentou mais uma vez vencer, mas mais uma vez, não aconteceu como imaginava. Mesmo largando na segunda posição, Barrichello rodou no “S” do Senna e precisou fazer uma corrida de recuperação para ter alguma chance – ainda que remota – de conseguir o seu segundo título. Rubens fez uma corrida de recuperação incrível naquela ocasião que contou com chuva para tornar a situação ainda mais dramática e emocionante – bem ao seu estilo. 

O título não veio naquela oportunidade, mas Rubens deu um show de pilotagem em pista molhada usando pneus de pista seca fazendo voltas impressionantes. O seu chefe de equipe depois da corrida falou algo que até hoje me toca muito: “Você é um fenômeno, você guia muito. O título não veio, mas a lição é essa, você guia muito!” Naquela ocasião, Rubens mostrou na pista o motivo de receber essas palavras de seu chefe. Fez uma prova de recuperação brilhante depois de rodar no “S” do Senna, chegando a ficar em 18º. Rubens guia muito e ao longo dos anos demonstra isso claramente com atuações em pista impecáveis. 

Contudo, a sina por conseguir a vitória em Interlagos ainda permanecia e mais uma oportunidade apareceu em 2018 da Corrida de Duplas. Diante das circunstâncias típicas do circuito paulista – em que o clima é completamente instável – Rubens passou perto mais uma vez. Mas mais uma vez a vitória não veio. Apenas um segundo lugar diante de todo o caos que a chuva proporcionou. Um segundo lugar também cheio de significado, pois antes da temporada da Stock Car começar, Barrichello havia sofrido um AVC e ficou com medo de não poder competir.

Fernanda Freixosa/ Vicar

Chegamos agora em 2022! Rubens está na disputa direta pelo título da temporada e chega a Interlagos com 8 pontos na frente do segundo colocado e 10 na frente do terceiro. Duas boas corridas, sem problemas e marcando os seus adversários, lhe daria o título sem poder arriscar muito. Na primeira largada, Rubens arrancou bem e disputou a segunda posição durante uma parte da corrida com Daniel Serra – rival direto pelo título, entretanto Rubens só ficou com o terceiro lugar na corrida .

© 2022 Luís França – www.luisfranca.net – Direitos reservados.

Já a largada da corrida 2 foi coisa de cinema. Na primeira perna da “S” do Senna os três postulantes ao título – Rubens Barrichello, Daniel Serra e Gabriel Casagrande – disputaram lado a lado em uma cena impressionante em que acabou acontecendo confusões e, claro, toques entre os três. Inicialmente, Rubens tocou em Serra, o que levou o próprio Rubens a rodar. Serra, por sua vez, toca em Casagrande forçando-o a ir para fora da pista. Enquanto Rubens se recuperava da rodada que deu, Casagrande volta à pista e toca em Serra causando uma rodada no piloto do carro #29 e uma quebra em sua suspensão traseira. 

Band/Reprodução

Depois do julgamento dos comissários, Casagrande foi considerado culpado do acidente que tirou Serra. Com isso, Barrichello já tinha as mãos na taça de campeão mesmo não precisando sequer terminar a corrida. Contudo, Barrichello não baixou o ritmo e deu tudo de si para terminar na 11ª posição da corrida, com direito a portada em Pedro Cardoso. Ali estava a consagração e a busca que algo que Rubens sempre buscou em Interlagos. 

“Hoje eu posso ter a gratidão que Interlagos está devolvendo um grande pedaço meu. Um grande pedaço para zerarmos nossas contas. Sempre amei Interlagos e Interlagos sempre me amou, essa é a realidade. Mas sempre houve alguns pormenores, principalmente o de 2003, quando eu estava nessa condição e ver meu carro ligar porque colocaram gasolina (no GP do Brasil de 2003, Barrichello liderava com a Ferrari e a equipe errou o cálculo do combustível. Rubinho abandonou a corrida, na liderança, por pane seca. Depois da prova, os técnicos da equipe abasteceram o carro e ele ligou, confirmando a hipótese do abandono por falta de combustível). Essa foi uma que doeu, e hoje ela está sendo zerada. Eu só posso agradecer. É muita gratidão”, disse Rubens após a conquista do título. 

© 2022 Luís França – www.luisfranca.net – Direitos reservados.

Rubens também comentou sobre a punição à Casagrande, veja o que ele disse: 

“Fui sendo informado o tempo todo (do abandono de Daniel Serra e da exclusão de Gabriel Casagrande) pelo rádio. Mas quando ele (Maurício Ferreira, chefe da Full Time) me contou, não senti nenhuma felicidade. Eu estava muito forte na corrida 1, cheguei muito próximo. E para a corrida 2 eu tinha a sensação de ter economizado um pouco mais de gasolina e poderia ultrapassar. Mas eu não poderia deixar de lutar em nenhum momento, e foi o que eu fiz. Hoje a minha missão cumprida foi que, apesar dos problemas, eu me dediquei a continuar na prova e inclusive até a linha de chegada, porque se eu precisasse, eu estava ali firme e forte”

Rubens não ganhou uma corrida – ainda, eu espero – mas ganhou um campeonato que por várias vezes passou perto e por alguma razão não havia chegado. No dia 11 de dezembro – aliás, número que o paulista tem uma ligação desde a infância, a oportunidade chegou e aconteceu de maneira emocionante e dramática. Obviamente, vencer com os adversários na pista seria algo bem mais bonito, mas não foi assim que aconteceu. Todavia, não foi por esse motivo que Barrichello não deixou de lutar até o fim. 

“Tenho troféus bonitos. Mas nada, nada se compara ao dia que Interlagos devolveu tudo para mim. Sempre foi uma questão de amor, sempre foi uma luta, e eu estou aqui para deixar uma marca de amor. Nada vai pagar a forma como foi hoje: meu pai, minha mãe aqui, meus filhos, a luta… Foi até a linha de chegada. Obrigado a todos que torceram”, disse Barrichello concluindo suas considerações sobre a corrida.

As contas foram zeradas! Interlagos devolveu algo para Rubens que há tempos ele procurava e agora encontrou. Agora, Rubens é bicampeão da Stock Car! Fez seu nome e escreveu mais um capítulo na história do automobilismo, não só no Brasil, mas a nível mundial. 

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