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Automobilismo

A pole de Russell na Hungria e a beleza da F1

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A Fórmula 1 é categoria da tecnologia, raramente permite milagres. Eles são escassos, e justamente por isso são exaustivamente lembrados quando acontecem. O piloto superar a desvantagem técnica que o separa do pelotão da frente, levar um carro ruim ao limite e conseguir um bom resultado é uma surpresa sempre agradável. Lembra-nos a beleza do esporte e da própria F1.

Não dá para classificar a pole de George Russell na Hungria como algo diferente do que foi: milagre. Uma pista travada, de baixa velocidade média e talhada para os dois carros da Ferrari era tida como palco para um passeio do time de Maranello. Max Verstappen e sua Red Bull corriam por fora, pois, o talento e a capacidade de ambos nunca podem ser subestimados. Ninguém, absolutamente ninguém, apostava em Russell e na sua Mercedes problemática.

Mas a prévia desse resultado magnífico foi dada no Q1. A Mercedes conseguiu uma dobradinha com os dois melhores tempos no primeiro ato do treino classificatório, algo impensável. Vale uma menção honrosa para Nicolas Latifi, da Williams, que fez o primeiro melhor setor do Q1 e vinha em uma volta boa até errar na última curva. Ficou em último, uma pena. Latifi é um cara bacana, piloto esforçado e muito trabalhador, sempre busca dar o melhor de si. Mas as coisas simplesmente dão errado com ele.

Pois bem, veio o Q2 e Verstappen fez o melhor tempo, seguido por Alonso. Uma surpresa se levarmos em conta que ambos pilotam carros talhados para pistas de alta velocidade – Red Bull e Alpine são ótimas na velocidade final de reta. Mas são dois pesos pesados da F1, talentos ímpares. O que não estava saindo como o esperado era o desempenho abaixo da Ferrari em um circuito ideal para ela. Algo extraordinário estava para acontecer.

O Q3 viu uma Ferrari fazendo o que se esperava dela. Carlos Sainz e Charles Leclerc estavam com tempos para uma dobradinha tifosi. No caso do espanhol, um tempo com três setores roxos. O único capaz de tirar a pole de Sainz era Verstappen, mas ele teve problema com seu RB18. A alegada falta de potência alijou o atual campeão da luta. Tudo estava desenhado para a segunda pole do simpático ferrarista, que passou com a melhor marca já com o cronômetro zerado.

Alguns carros ainda estavam na pista em volta rápida, mas nenhum se colocava como ameaça ao tempo de Sainz. Até que Russell cruzou a linha de chegada e marcou 1min17s377, pouco mais de quatro centésimos mais rápido que o tempo do ferrarista. Ele fez três setores verdes, ou seja, melhorou o seu próprio tempo, mas não cravou nenhum melhor setor. Impressionante.

Todos nós vimos o perrengue que a Mercedes passou – e ainda passa – nesta temporada. Na Emilia-Romagna, o ponto mais baixo do ano, Lewis Hamilton não conseguia passar da AlphaTauri de Pierre Gasly e tomou volta do líder Verstappen. Absolutamente frustrante para um heptacampeão e para uma equipe acostumada com as primeiras posições. Um W13 problemático frente aos foguetes da Red Bull e da Ferrari faz de 2022 um dos piores anos das flechas prateadas, com pouquíssimas coisas para comemorar.

Essa pole é uma delas. George Russell é talento puro. Correu dois anos na Williams com carros horríveis e conquistou resultados interessantes. Além de marcar pontos, ele andava bem nos treinos – muito além das possibilidades da máquina que tinha em mãos. Um deles foi inesquecível: no qualy do GP da Bélgica de 2021 debaixo de muita chuva, Russell fez o segundo melhor tempo, desbancando pilotos de equipes como Mercedes, Red Bull e Ferrari. Por muito pouco não veio a pole.

Ao colocá-lo no lugar de Valtteri Bottas, a Mercedes sabia muito bem o que estava fazendo. Portanto, não há duvidas acerca da sua capacidade. Se a equipe alemã voltar a acertar a mão em seus carros, dificilmente Russel não será campeão.

Esperávamos mais da Ferrari, mas o qualy não foi de todo ruim. P2 e P3 para um carro inferior na dianteira é uma situação totalmente contornável, sempre com a lembrança de Hungaroring ser um circuito travado e favorecer um carro talhado para curvas de baixa e média velocidade como o F1-75. Leclerc precisa muito da vitória e recuperar a confiança plena após o erro na França. A conferir.

Quanto a Max Verstappen, P10 não é nem de longe o normal para ele, e a confiabilidade do RB18 ficou mais uma vez exposta. O atual campeão precisará fazer uma corrida de recuperação, somar o maior número de pontos possíveis e manter a liderança confortável no campeonato. Se a Red Bull não o deixar na mão, ele é capaz disso.

A expectativa é de uma corrida emocionante de cabo a rabo. Surpresas são sempre bem-vindas, ainda mais na F1, uma categoria pouco afeita a milagres. George Russell já operou um no qualy. Quem sabe outros virão amanhã.

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