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Automobilismo

Sobre a confusão na Red Bull

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Antes de discorrer sobre os acontecimentos de Interlagos, é necessário deixar tais coisas muito claras:

 

  1. Sem a Red Bull, a trajetória de Sérgio Perez na Fórmula 1 não teria continuidade. Desemprego após ser dispensado da finada Racing Point – hoje Aston Martin – e a querida Mercedes Rosa ir atrás de Sebastian Vettel, ele conquistou um lugar na equipe taurina após vencer o Grande Prêmio do Sakhir em 2020. Não fosse o telefonema de Christian Horner, o mexicano estaria correndo em outro lugar.
  2. Max Verstappen sempre foi privilegiado na RBR depois de demonstrar nas pistas o potencial absurdo confirmado nas últimas duas temporadas. Daniel Ricciardo, Pierre Gasly e Alexander Albon foram batidos por ele e sabiam bem seus respectivos lugares. Não há como alegar a mínima surpresa em um tratamento diferenciado para o holandês: ele manda e desmanda na equipe, e como ser diferente após os dois títulos mundiais que tiraram os taurinos de uma fila de oito anos?
  3. A Red Bull sempre privilegiou um piloto em detrimento ao companheiro. Ou vocês esqueceram dos tempos de Sebastian Vettel e Mark Webber na equipe? O ponto mais alto disso foi no GP da Malásia de 2013, o famoso Multi-21: a RBR deu uma ordem para a manutenção das posições de ambos, com Webber em primeiro e Vettel em segundo. Mas o tetracampeão jogou a ordem para as cucuias e partiu para o ataque, vencendo a corrida. A fúria do australiano foi tamanha que ele fez questão de receber a bandeirada longe da equipe e quase bateu no alemão. O que aconteceu depois disso? Absolutamente nada. Os austríacos não seriam loucos de punir o melhor piloto do mundo da época.
  4. Não é de hoje que Verstappen ignora ordem de equipe para inversão de posições. No GP de Singapura de 2015, ele corria pela Toro Rosso – hoje AlphaTauri – junto com Carlos Sainz. Os taurinos pediram para ele ceder a posição para Sainz, mas Verstappen não atendeu o pedido. Se na temporada de estreia correndo no time B da Red Bull ele não fez isso, imagine na matriz depois de um bicampeonato.

 

Diante de tudo isso, é impossível fingir surpresa com os fatos do último domingo. Perez fez um pedido legítimo para a equipe. A própria falhou com ele ao colocar o composto médio nas voltas finais – o RB18 não rendia de médios e isso era fato conhecido. Ao falarem para Verstappen ceder a posição ao mexicano, a Red Bull se colocou no risco de ser exposta ao ridículo por ele. E foi exatamente o que aconteceu.

Verstappen não é maior que a Red Bull, mas sobrevive tranquilamente sem ela. Se Horner e cia mandassem o holandês passar no RH da equipe, ele não dormiria sem receber um milhão de ligações dos outros times. Todo mundo sabe disso. Eu, vocês, Verstappen e a própria RBR. Não por acaso o seu contrato vai até 2028 – uma garantia de não perder o bicampeão de mão beijada para a concorrência.

Vocês conhecem meus elogios a Verstappen. É um piloto fenomenal. Na F1 de hoje, ninguém dirige mais ou melhor que ele. Mas a sua atitude no GP do Brasil foi no mínimo lamentável. Custava ceder a posição ao companheiro brigando pelo vice-campeonato quando ele já conquistou o título? Qual a importância de tais pontos depois do objetivo principal já ter sido alcançado? Nos momentos em que foi requisitado ao papel de escudeiro, Perez ajudou. No GP da Turquia de 2021, segurou Hamilton e fez o heptacampeão tomar um atraso decisivo para arruinar a sua corrida. Na decisão do título em Abu Dhabi, uma aula de pilotagem defensiva – e decisiva – para segurá-lo novamente e ser peça-chave no título de Verstappen.

Nada mais justo que retribuir a gentileza e ajudar Perez a ser vice-campeão. Mas Verstappen pensou somente nele. Se precisar do escudeiro novamente, nada garante que o mexicano seja tão escudeiro.

Fala-se que Verstappen tem os seus motivos, e o principal deles seria uma batida proposital de Perez no qualy em Mônaco – tal acontecimento provocou o fim do Q3 e estragou uma volta rápida do holandês, com o companheiro largando na frente e vencendo a corrida. Sinceramente, eu não acredito muito em tal hipótese. Um acidente proposital é algo denunciado pela própria telemetria, e nem um gênio como Michael Schumacher conseguiu enganar a todos quando tentou isso na mesma pista em 2006.

Enfim, a minha visão sobre o fato é essa. Não julgo como algo tão absurdo ou arrogância extrema de Verstappen. Deixo esse trabalho para os torcedores da dita imprensa especializada que o odeiam e nem disfarçam mais. O lado show business da F1 é um pé no saco, bem como a exploração disso.

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