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Fórmula 1

Segunda Bandeirada #06: Campeão na Sprint, e daí?

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Somente uma tragédia – daquelas totalmente inesperadas – tira o tricampeonato de Max Verstappen no Qatar. O ótimo circuito de Lusail será testemunha de mais um feito histórico desse semideus do volante. Ele será tricampeão como Jack Brabham, Jackie Stewart, Niki Lauda, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Muito provavelmente, vencerá a corrida e estará a três triunfos de ultrapassar Alain Prost. Não é pouca coisa o que o holandês tem feito na Fórmula 1.

Seja lá como e quando for, será a história sendo escrita mais uma vez. A torcida contra Verstappen, cujo único métier é espinafrar o holandês, já está com o papo de anticlímax caso a conquista venha na sprint. Nunca compreendi bem as razões que fizeram dele o alvo número um dos puritanos de ocasião, torcedores dos santos imaculados da F1, enfim, exemplo de limpeza ética quando é conveniente. Ou esqueceram da comemoração de muitos ‘’fãs’’ quando Verstappen foi parar na barreira de pneus em Silverstone – batida com 51G – na corrida de 2021?

Uma coisa precisa ficar bastante clara aqui: não existe anticlímax ao se ganhar um título mundial com total merecimento, mais ainda de maneira limpa. A F1 já teve desfechos agridoces, e ser campeão na corrida sprint não é um deles.

É bem curioso falar em decisões de título com final agridoce. Nenhum fã brasileiro viu o menor problema no campeonato de 1990 acabar com uma batida entre Senna e Prost no Grande Prêmio do Japão. Ao tomar a ponta e tentar defender a dianteira, o francês foi abalroado pelo brasileiro na primeira curva do circuito, em uma das manobras mais tresloucadas e perigosas da história. Logo virão os fanáticos falar em ‘’troco de 1989’’, mas não há a mínima possibilidade de comparação: Prost fechou a porta em uma chicane e estava na frente, Senna deu no meio do rival estando atrás em um ponto de alta velocidade.

Michael Schumacher ganhou seu primeiro título depois de jogar o carro para cima de Damon Hill. Em que pese as peculiaridades daquela temporada de 1994, as punições ridículas impostas pela FIA a ele e a óbvia injustiça esportiva caso o britânico da Williams fosse campeão, não há o que discutir naquele incidente. Schumacher tirou Hill da prova com aquela batida sendo o maior responsável por tal desfecho. É a única coisa presente na memória da maioria dos fãs. Disso os pachecos lembram, não é mesmo? O alemão virou um pária em solo tupiniquim – sabe-se lá a troco do que.

Não apenas as batidas fazem os atos finais da F1 um tanto decepcionantes. Piquet foi tricampeão em 1987 no treino classificatório com a batida de Nigel Mansell. Desesperado e guiando o carro no limite, o leão bateu forte e sua participação na corrida foi vetada. O título foi decidido ali. Fernando Alonso foi bicampeão em Interlagos após uma corrida burocrática, mais pela maré de azar de Schumacher nas últimas duas corridas – quebra no Japão e problemas no qualy mais pneu furado na corrida no Brasil – que qualquer outra coisa. Quem acompanhou aquela disputa mágica de ambos na temporada de 2006 ficou certamente decepcionado. Aquela última dança merecia mais.

As coisas tendem a ser bem diferentes no Qatar. Max Verstappen guia um foguete de carro, é o melhor piloto da atualidade e estará em uma pista cujas características casam muito bem com o seu RB19. Ninguém irá atrapalhar a sua corrida. O resto do grid tem mais o que fazer. Perder tempo ao segurar quem é mais rápido e tem máquina melhor é uma bobagem monumental.

Portanto, antes de falar qualquer coisa a respeito das possibilidades para o GP do Qatar contando com um suposto anticlímax na decisão do título em pleno sábado, lembre-se do que a história ensina. Ela costuma ser uma boa professora. Outros pilotos já ganharam títulos em desfechos mais frustrantes que uma mera posição de chegada numa sprint. Tenho em mente o Eclesiastes nestes momentos: não há nada de novo debaixo do sol. Bobos aqueles quando contam as novidades que eu já canso de saber.

Fui longe, caro leitor. Mas nada mal, certo? É sempre bom lembrar que a vida vai além de carros andando em círculos em busca da melhor posição possível. Max Verstappen parece saber bem disso, e na última entrevista dada antes destas humildes linhas, transparece não estar nenhum pouco preocupado em ganhar o tri no sábado ou em qualquer dia do fim de semana. Pode ser campeão na sprint, e daí? Faz o que ama e não deve nada a ninguém. Ruim seria não ser campeão de modo algum.

 

Foto: Reprodução/ Terra/ Red Bull/ Grande Prêmio

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