O show de Alonso

A vitória de Max Verstappen no Grande Prêmio do Bahrein foi categórica. Demonstrou uma superioridade absurda, incontestável, cristalina. Mas não surpreende a ninguém. Desde a pré-temporada, sabia-se que o RB19 era um foguete, e nas mãos de um piloto excepcional como Verstappen seria imparável.

Deixemos a exuberante atuação do holandês de lado, pois. Não vejo muito a acrescentar. Quero falar de outro piloto que roubou a cena em uma corrida meio burocrático e sem tantas emoções assim. Sim, estou me referindo a Fernando Alonso. Amado e odiado, ele é garantia de show nas pistas – independente do carro que entreguem em suas mãos.

Alonso chegou na terceira posição. O potencial oferecido por esse carro da Aston Martin permite isso, fato. Mas é um pódio que Dom Fernando não vê desde o GP do Qatar de 2021. Ele nunca deixou de andar bem, levar a sua máquina no limite e demonstrar um talento absurdo. Prova disso foi o qualy no GP do Canadá de 2022, quando ele cravou o segundo tempo de Alpine contra carros bem melhores que o seu em plena chuva.

Na corrida de ontem, Alonso largou mal e perdeu duas posições para as duas Mercedes guiadas por Lewis Hamilton e George Russell. Ele manteve a calma, imprimiu um bom ritmo e encostou em Russell, passando o britânico antes da primeira parada. Sabendo guiar um carro bom com potencial para chegar no pódio, Alonso manteve a boa tocada e ultrapassou Hamilton, um duelo de tirar o fôlego. Contando com o abandono de Charles Leclerc, ele passou Carlos Sainz e cruzou a linha de chegada em terceiro. No pódio.

Mais do que o resultado em si, a corrida evidenciou o talento absurdo de Dom Fernando. Sainz e Hamilton defenderam suas respectivas posições de maneira dura, porém leal, protagonizando duelos incríveis. Quando o compatriota da Ferrari espalhou um pouco, Alonso teve de ir mais para o lado da pista para evitar um toque quase certo. Já o heptacampeão disputou palmo a palmo da pista e engradeceu ainda mais a atuação do bicampeão.

Quanto tempo faz que Fernando Alonso não guia um carro decente? Quanto tempo que a sua carreira entrou em um limbo incompatível com o talento gigantesco e incontestável de um bicampeão como ele?

Alonso é tido como um cara de temperamento difícil, explosivo e com um gênio que o faz ter várias portas fechadas na F1. Não duvido disso, mas creio ser bem reducionista evidenciar esse tipo de característica para justificar um número de conquistas aquém do seu talento natural. Quantos pilotos já consagrados e cheios de troféus na estante também saíram de suas respectivas equipes de maneira pouco cordial? O príncipe das Astúrias não é o único, tampouco será o último.

Mas isso aqui é automobilismo, corrida de carros, não o BBB. Na F1, simpatia não vence corridas, não enche barriga e sequer salva empregos – o super simpático Daniel Ricciardo foi chutado sem dó nem piedade da McLaren após levar sovas homéricas do companheiro Lando Norris por duas temporadas. Piloto que quer fazer bella figura sem trazer resultado para a firma tem seus dias contados. Pode-se ser antipático como bem entender, desde que ande bem.

E quando o assunto é Fernando Alonso, bom, a sua biografia como piloto fala por si. No primeiro título mundial, em 2005, ele comemorou a façanha de maneira pouco ortodoxa ao soltar um ‘’¡toma!’’. Ao perder o campeonato de 2010 por ficar uma vida atrás de Vitaly Petrov em sua Renault, reclamou uma barbaridade com o russo – atitude enquadrada facilmente como ‘’choro’’. Além disso, Alonso nunca mediu palavras para espinafrar seus colegas em incidentes ou episódios do gênero. Bom-mocismo não combina com esse asturiano indomável.

O que esperar dele na Aston Martin? Bom, o time britânico parece ter entregado um carro decente em suas mãos. Pode não ser o melhor do grid, a Red Bull parece inalcançável nesse momento, mas não deixa de ser uma ótima máquina. Dependendo da pista e do contexto, Alonso pode beliscar mais pódios e até mesmo vitórias. Disputar o título com Verstappen é quase improvável, mas ele certamente entregará novos bons espetáculos nessa temporada.

Afinal, de um piloto como Fernando Alonso se pode esperar muito.