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Automobilismo

O clubinho fechado despreza a Andretti

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Poucas coisas na Fórmula 1 contemporânea são tão constrangedoras quanto a resistência das equipes ao ingresso da Andretti na categoria. É simplesmente bizarro. Fala-se tanto em abertura da F1 para novos públicos, mercados e pilotos, mas quando alguém chega querendo fazer algo interessante, as portas são fechadas sem a menor cerimônia.

Não se fala de qualquer equipe ou dono: é a Andretti, time que corre na Indy e na Fórmula 1 – só para ficar nessas duas categorias mais populares do automobilismo. Mário Andretti, pai do dono da equipe e também ex-piloto Michael Andretti, é um dos quatro pilotos na história a ter vencido os campeonatos da F1 e da Indy. É um nome com muita tradição no automobilismo.

Pois bem, o meio da F1 não quer a Andretti no grid. Deu todas as desculpas possíveis para tal atitude – quando se sabe que os motivos se resumem a dinheiro e medo de um possível sucesso da equipe.

O primeiro figurão da F1 a rechaçar a ideia foi Toto Wolff. Questionou o valor que a Andretti poderia agregar à categoria. Isso só pode ser piada. A Andretti é uma marca muito respeitada no automobilismo mundial, além de atender ao anseio da Liberty em ter uma equipe americana forte no grid. E se for para ir em tal questionamento, qual valor que equipes como Haas e AlphaTauri agregam à F1? Essa desculpa foi certamente a pior de todas.

Mário não gostou e questionou como Toto virou uma figura muito poderosa na F1. Faz total sentido. Já seria algo natural pelo fato de outras três equipes usarem motor Mercedes. Além disso, a FIA foi bastante generosa com a equipe alemã em diversas oportunidades: mudança no MGU-K da Ferrari em 2018, nas pistolas utilizadas nas paradas pela Red Bull em 2021 e uma nova diretiva para acabar com o porpoising em 2022. Em todas essas ocasiões, a Mercedes se sentiu ameaçada e Toto Wolff costurou tais soluções nos bastidores. O automobilismo é o esporte mais político que existe e a F1 exemplifica bem.

Outro que deixou clara a resistência das equipes foi Christian Horner, chefe da Red Bull. Ele já foi mais direto e ressaltou apenas o lado financeiro para explicar as portas fechadas ao time americano. Bom, faz sentido que as atuais escuderias não queiram diluir seus ganhos com a entrada de mais uma, pois a Liberty já deixou claro que não vai pagar pela brincadeira. Mas temos o teto orçamentário, e das dez equipes do grid, somente a Williams não consegue dinheiro suficiente para chegar no valor máximo.

Além disso, o já citado sonho em ter uma equipe americana para explorar o mercado na terra do Tio Sam faria qualquer perda inicial parecer troco de pinga com os ganhos futuros dessa empreitada. Sem um time como a Andretti ou um piloto da casa, a F1 pode lotar o calendário com corridas por lá que o resultado será um fiasco como foi o GP de Miami. Podem ter certeza.

Com essa postura arrogante, ridícula e até mesmo burra das equipes ao fecharem as portas para a Andretti, a F1 dá um recado muito claro a quem pretende fazer o mesmo: o circo está fechado. Passem outra hora ou desistam de vez da categoria. Procurem novos ares, pois aqui só entra quem nós queremos. Vale tanto para equipes quanto para pilotos.

Como explicar, por exemplo, a volta de Nico Hülkenberg ao grid? Ele já teve tempo suficiente para mostrar algo interessante na F1, e em quase duzentas corridas não chegou sequer ao pódio. Mas a Haas entendeu por bem trazê-lo de volta e chutar Mick Schumacher. Troca interessante: sai um jovem piloto com potencial que foi fritado pelo próprio chefe e chega um veterano com pouco a acrescentar. Gênios.

E assim segue o clubinho fechado. Nada surpreendente, pois a F1 sempre foi composta de pessoas com olhos para o próprio umbigo e que acham a categoria o único meio possível para a felicidade no automobilismo. Mal sabem que existe vida e muito boa longe dela. A Andretti continuará fazendo bonito nas categorias que ela corre e faria o mesmo na F1 – não fosse o desprezo da confraria dos Totos e Christians da vida.

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