Entre em contato conosco

Automobilismo

Gasly e Alpine: um casamento perfeito

Publicado:

em

Gasly

Na dança das cadeiras aberta pela ida de Fernando Alonso para a Aston Martin, Pierre Gasly mudou de time. O francês que correu por Toro Rosso, Red Bull e AlphaTauri estará agora na também francesa Alpine. Contrato longo, salário bom e muita expectativa a respeito do quão longe ele pode ir.

Eu leio constantemente alguns fãs falarem de uma suposta injustiça cometida pela Red Bull ao trocar ele por Alexander Albon em 2019, que Helmut Marko fritou um jovem talento e que ele andará bem na Alpine por não estar podado pela vilã energética. Fã é sempre passional. A verdade, entretanto, não se importa muito com os sentimentos – e ela demonstra como tais premissas são equivocadas.

Pierre Gasly não foi injustiçado coisa nenhuma na Red Bull. Ele teve sua chance no time principal, guiava um carro decente e poderia ter feito bem melhor. Não conseguiu. Em 12 corridas pela RBR, a melhor posição alcançada foi um quarto lugar no GP do Reino Unido. Enquanto isso, Max Verstappen venceu duas corridas – Áustria e Alemanha – e foi ao pódio em outras três. Tudo com o mesmíssimo carro. Além disso, alguns momentos foram absolutamente vexatórios, como a volta tomada de Verstappen e a luta incrível para ultrapassar a Alfa Romeo de Kimi Raikkonen em Spielberg.

Em suma, Gasly teve sua chance em uma equipe de ponta e fracassou. Ficou nítido o abismo entre ele e um piloto como Verstappen. Pintar Helmut Marko como vilão de gibi para justificar o seu regresso ao time B da Red Bull não cola. A decisão foi mais do que compreensível – this is the F1, guys.

Ele teve alguns momentos interessantes na AlphaTauri, aquela vitória sensacional em Monza em 2020, mas nada de encher os olhos. Quais equipes do pelotão de cima olharam para o seu desempenho recente e moveram mundos e fundos para tirá-lo do time reserva da Red Bull? Nenhuma. E a própria RBR, pela boca de Helmut Marko, não faria esforço algum para mantê-lo caso alguma escuderia quisesse levá-lo.

E assim foi quando a Alpine ofereceu uma vaga. Pode-se falar que é uma equipe melhor que a AlphaTauri, que é uma ótima oportunidade para ele e era isso ou estar eternamente condenado ao time B da RBR. Concordo com todas as três objeções. Mas, é bom lembrar, a Alpine está longe de ser um lugar para quem quer realmente ser campeão ou lutar por vitórias – e isso não mudará tão cedo.

A Alpine é uma equipe de fábrica. Isso traz algumas vantagens, pois o time que faz a própria unidade de potência não tem a relação extremamente complicada – entenda-se por correr com a xepa alheia – de equipe cliente com a fornecedora. Gastar dinheiro para comprar um motor que não tem a mesma qualidade reserva para as escuderias fornecedoras não é nada desejável. Era de se esperar, então, uma Alpine forte, brigando no pelotão de cima e sendo protagonista.

Era, pois a escuderia francesa parece estar na F1 apenas para fazer número. Todo mundo sabe que a categoria exige muito dinheiro de quem quer chegar ao topo. A Mercedes, por exemplo, virou uma equipe de ponta com a chegada de Toto Wolff e o convencimento feito por ele aos donos da marca que as flechas prateadas só conquistariam algo se eles estivessem dispostos a gastar mais que a concorrência. Deu certo. De lá para cá, sete títulos mundiais de pilotos e oito de construtores – uma hegemonia impressionante.

Pois bem, a Alpine chegou a ter um orçamento 60% menor que o da Mercedes quando a equipe estampava o nome Renault. Com esse investimento pífio, nunca vão conseguir algo. Nem o teto orçamentário é uma esperança de dias melhores, pois dificilmente a Renault colocará dinheiro suficiente para a equipe se aproximar do limite permitido. E a F1 é assim: sem grana, sem resultados. Para se ter uma ideia da situação, basta ter em mente que o motor Renault é o menos potente dentre os quatro utilizados na categoria.

Gasly e Alpine têm mais em comum do que apenas a origem pátria. Para mim, é o casamento perfeito: sempre se espera muito de ambos, mesmo com o passado recente indicando o contrário. Posso estar errado, Gasly comece a pilotar horrores e a Alpine entregue um foguete de carro? Sim. Mas é quase impossível de acontecer. É a união dos superestimados que dificilmente resultará em algo relevante.

Compartilhe esta publicação
Clique para Comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.