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Automobilismo

Bem-vindo ao grupo dos vencedores, George Russell

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George Russell

Quando um resultado igual ao de ontem acontece, os clichês insuportáveis estão prontos para desfilarem nas colunas jornalísticas. Tratar a vitória de George Russell em Interlagos como algo grandioso e fora do normal é um clichê desrespeitoso ao próprio britânico.

A única surpresa nessa história é a evolução da Mercedes ter acontecido de maneira tão rápida. Se vocês lembram bem, a única chance das flechas prateadas foi em Austin, quando Lewis Hamilton liderava a poucas voltas para o final e Max Verstappen vinha em seu encalço. O bicampeão não teve grandes dificuldades para ultrapassar o rival e ainda abrir cinco segundos de vantagem.

Pois bem, volto a George Russell. É inesperado vê-lo no alto do pódio em uma temporada cheio de percalços para a Mercedes? Sim. Mas quanto ao próprio Russell, zero surpresa. Ele é um talento nato, venceu a F2 em sua temporada de estreia e conseguiu bons desempenhos na F1 ao guiar carros limitados com a Williams. É evidente que o próprio cometeu alguns deslizes na atual temporada ao protagonizar incidentes desnecessários, mas, ora bolas, faz parte do amadurecimento de um jovem piloto como ele.

Aliás, ele mostrou maturidade de sobra em Interlagos. Não deu sopa para o azar na largada e nas duas relargadas ocasionadas por incidentes. Russell sempre pulou bem na dianteira, manteve uma distância segura para quem vinha atrás e pode se dar ao luxo de controlar o próprio ritmo sem ser ameaçado. Guiou como talento absurdo. Guiou como futuro campeão.

Se Russell fez o que estava ao seu alcance, os outros não podem dizer o mesmo. Hamilton e Verstappen adicionaram mais um episódio na interminável lista de incidentes entre os dois ao se tocarem no S do Senna. Verstappen forçou uma ultrapassagem por fora, Hamilton não deu espaço e ambos se tocaram. Pior para o holandês, que teve a asa dianteira inteiramente danificada e precisou parar logo no começo.

Vocês querem saber a minha opinião sobre o toque. Certo. Quem tenta ultrapassar por fora naquele ponto assume total risco por um eventual acidente, e foi o caso de Verstappen. Mas o outro piloto precisa deixar espaço para não arruinar a corrida de ambos, e Hamilton nitidamente não fez o menor esforço para isso. Ambos forçaram a barra, jogaram duro e estavam pouco dispostos a aliviar para o outro. Para mim, incidente de corrida e nada mais. Sem punição para os envolvidos.

A penalização de 5s para Verstappen, somada com a parada forçada, arruinou a sua corrida. Ele era favorito para a vitória – e não teria como ser diferente. Mas as circunstâncias alijaram qualquer possibilidade de triunfar em Interlagos. Além do entrevero com Hamilton, ele protagonizou outra polêmica ao negar devolver a posição a Sérgio Perez e ajudar o companheiro na luta pelo vice-campeonato. Sobre tal caso, falarei em artigo separado, pois ele necessita de mais espaço para ser melhor abordado. Algumas coisas precisam ser ditas nessa história.

Hamilton e Verstappen fora da briga, quem mais poderia estragar a festa de Russell? Ninguém. Nem mesmo os dois pilotos da Ferrari. O time de Maranello começou a temporada dando sinais de que 2022 era o seu ano e que ninguém seria páreo para os imparáveis cavalos rampantes. Pois bem, para além dos erros constrangedores nas estratégias de corrida e nas paradas, a equipe viu seu carro piorar ao longo da temporada. O novo assoalho colocado na França tinha a intenção de tornar o F1-75 mais rápido, porém, acabou destruindo o seu equilíbrio aerodinâmico. Junte isso com o fato do carro ser um roedor de pneus. Não poderia dar certo.

Colocados todos esses fatores, qual a surpresa com a vitória de Russell? Nenhuma. Ele trabalhou a vida inteira para isso, tem talento, está em uma equipe de ponta e faz uma ótima temporada de estreia. Se o W13 não é a oitava maravilha do mundo mercedista, também não é uma porcaria. É um carro em que se pode vencer ocasionalmente se colocado nas mãos certas. Interlagos 2022 provou isso.

O choro no pódio e a comemoração efusiva fazem parte do pacote. Russell venceu pela primeira vez na carreira. Mas, como disse, ele se preparou a vida inteira para chegar onde chegou. A beleza do fato é acompanhada com a confirmação de tal cenário. Bem-vindo ao grupo dos vencedores, George Russell. Tenho certeza que outras tantas vitórias virão.

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