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Automobilismo

Apenas um piloto de carros

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As arquibancadas laranjas em Spielberg estavam completamente lotadas. Como sempre acontece no Grande Prêmio da Áustria, a torcida de Max Verstappen faz um espetáculo incrível. Não havia outro motivo para ser diferente na prova deste ano: um bicampeão mundial guiando um carro bem melhor que os outros era sinônimo de triunfo certo. E foi.

A vitória de Verstappen o fez passar Ayrton Senna e se tornar o quinto maior vencedor da história da Fórmula 1. Não entrarei na discussão tola e infindável sobre quem é maior ou melhor, o peso das estatísticas, etc. Trata-se, isso sim, de constatar que temos na categoria um piloto jovem, em plena forma e com muito chão pela frente ganhando tudo e com totais condições de dinamitar as outras marcas.

O Verstappen de 2023 não dá a menor chance para os adversários. Largou bem, manteve a dianteira e imprimiu um ritmo suficiente para abrir uma vantagem confortável. Nem o Safety Car provocado pelo abandono de Nico Hülkenberg após o motor Ferrari da sua Haas abrir o bico alterou tal situação. Enquanto os outros pilotos trocavam pneus e traçavam estratégias para tentar ganhar posições, Verstappen continuava na pista, sem demonstrar o menor abalo com a possibilidade de perder a dianteira quando parasse.

Tal possibilidade virou realidade, e coube a Charles Leclerc sentir o doce sabor da liderança – além de Verstappen, nenhum outro piloto liderou uma volta sequer após o GP de Miami. A corrida seguiu o seu ritmo normal: Verstappen fez a sua troca, voltou acelerando tudo e recuperou a dianteira após ultrapassar Leclerc. Sem sustos, sem grandes disputas ou algo semelhante. A F1 é impiedosa quando se dá a um gênio o melhor carro: ele desaparece do resto do grid e deixa os outros pilotos comendo poeira. O holandês é mesmo de outra prateleira.

Quanto ao resto, bons pontos para a McLaren com suas atualizações bastante assertivas. Lando Norris fez mais uma boa corrida, ficou em P4 e mostrou o que pode fazer com um carro minimamente decente. Aston Martin e Mercedes decepcionaram, com as flechas prateadas roubando a cena pelo diálogo nada sutil entre Lewis Hamilton e Toto Wolff. A chiadeira do heptacampeão conseguiu irritar o próprio chefe: quando não pedia punição para os outros competidores, reclamava do seu errático W14.

As punições também roubaram a cena nessa corrida. Inúmeras voltas deletadas, pilotos perdendo posições após o final da prova e sanções totalmente faraônicas, como os 30 segundos de Esteban Ocon. Os famigerados limites de pista constituem uma regra, e enquanto estiverem lá, precisam ser respeitados. Mas, convenhamos, é chato e extremamente desagradável punir piloto após o resultado na pista por algo facilmente solucionável. Colocar grama ou algo do tipo além da linha branca é o ideal: ninguém ganha tempo ao escapar com as quatro rodas para fora. Ponto.

Como não poderia deixar de ser, alguma atitude de Verstappen também virou pauta para fãs e jornalistas. Sinceramente? Eu gosto disso. Aos que dizem que a F1 está chata, que ela está morrendo ou coisas do tipo, aí está: nunca se falou tanto dela nos últimos anos quanto agora. E o holandês é um dos responsáveis por essa apoteose.

Explico: faltando poucas voltas para o final, Verstappen tinha uma vantagem confortável para Leclerc, suficiente para uma eventual parada sem perder a dianteira. Ele utilizou, mas para colocar pneus macios e fazer a volta mais rápida da corrida. E fez. Pronto: foi o suficiente para os haters cuspirem marimbondo, até de egoísta chamaram o bicampeão. Na imprensa brasileira, teve quem classificasse isso como soberba e mau exemplo para as crianças (?!). É cada bobagem, meu Deus. Max é apenas um piloto de carros que faz seu trabalho melhor que os demais. Ponto. É por essas e outras que não fico com a menor tristeza com a sua hegemonia. Serve para identificar bem os fãs do esporte.

 

Foto: Reprodução/ Autoracing

 

P.S: Todas essas linhas ganham uma desimportância solene com a morte de Dilano van ‘t Hoff, piloto da FRECA. Ele tinha apenas 18 anos e perdeu a vida após um acidente em Spa-Francorchamps, em uma relargada de uma volta com a pista encharcada. Fica o meu registro de pesar e orações por esse garoto que morreu em busca do próprio sonho. E que tal estupidez de relargar para uma única volta com a pista naquelas condições nunca mais se repita. Como diria Jackie Stewart, os carros atuais podem ser mais seguros, mas o animal ainda é o mesmo.

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