Entre em contato conosco

Automobilismo

A Red Bull continua a mesma – os haters que saíram da toca

Publicado:

em

Um fato aparentemente consensual sobre a Fórmula 1 ganha mais significado a cada que passa: a categoria está parecida com o futebol em termos de torcida. Abram o Twitter ou leiam algum artigo relacionado ao tema e vocês irão concordar comigo. A rivalidade Hamilton vs Verstappen atingiu o ápice em 2021. Cada corrida parecia um grenal. Era coisa de louco.

A atual temporada ensaia uma disputa entre Max Verstappen e Charles Leclerc, mas nem por isso o entrevero entre o atual campeão e Lewis Hamilton foi esquecido. Os fãs do heptacampeão o idolatram na mesma medida que odeiam o rival, apresentando-o como a encarnação do demônio na Terra. Alguns da imprensa são mais discretos, porém, não escondem a ojeriza ao piloto holandês. É disso que falarei nesse artigo.

Rafael Lopes, jornalista do grupo Globo, fez um artigo para tentar demonstrar uma certa guinada da Red Bull. Segundo ele, uma equipe bacana e simpática foi tomada de assalto por um reacionário falastrão, transformando-a em um símbolo conservador – e consequentemente em tudo o que não presta. Ele até falou em uma ‘’aposta em um salvador da pátria’’. Sério. Isso foi escrito por um jornalista.

E o que embasa essa tese? Simples: o fato da equipe ter supostamente se colocado como contraponto ao ‘’fenômeno Lewis Hamilton’’, não ter o mesmo entusiasmo do heptacampeão em abraçar causas progressistas e ficar quieta quando o mesmo foi alvo de ataques.

Precisamos ter muito cuidado com o que falamos. Não pelo tal cancelamento ou coisa do tipo, mas por subestimarmos o poder das palavras – ainda mais quem é jornalista, como eu e o próprio Rafael Lopes. No presente caso, houve uma irresponsabilidade tremenda. Não gostar de Max Verstappen, Christian Horner, Helmut Marko é uma escolha. O que não se justifica é partir para a demonização pela simples antipatia, jogando a realidade dos fatos no lixo.

Para começo de conversa, a Red Bull não se calou quando Hamilton foi alvo dos imundos racistas que infelizmente ainda habitam este planeta. Matéria do ge – portal no qual o sr. Rafael trabalha – sobre o caso mostra a posição clara da equipe austríaca em apoio ao heptacampeão. A RBR demitiu um funcionário que teve o mesmo tipo de comportamento repugnante. Max Verstappen também apoiou o rival com todas as letras em casos semelhantes. Desculpem-me, mas esses fatos não deixam a menor margem para outra interpretação.

Esses esclarecimentos são absolutamente relevantes, pois muita gente usa o escudo da luta antirracista – louvável e mesmo um imperativo moral – para blindar Lewis Hamilton de críticas ou para atacar Max Verstappen de toda maneira. É de um despropósito sem tamanho com uma causa vital para um mundo minimamente digno. Hamilton é um heptacampeão, dono de praticamente todos os recordes da categoria e uma lenda. Não precisa de puxa-saquismo imbecil para ser reconhecido como o gênio que é. Nem Verstappen merece essa horda de haters frustrados com a própria vida que descontam a própria infelicidade no holandês.

Sobre a pecha de equipe conservadora ou retrógrada, é mais uma visão estereotipada das coisas – e inverídica também. Não vou entrar em detalhes sobre política, mas o termo ‘’conservador’’ é escorregadio e impreciso, podendo significar um gama de coisas. O conservador brasileiro vê na defesa de valores ligados a uma cosmovisão cristã um alicerce da sua plataforma política. Já o conservador francês quer preservar as instituições republicanas oriundas da Revolução Francesa, sendo geralmente um sujeito defensor do secularismo – nada mais oposto ao ‘’nosso’’ conservadorismo. Tachar a Red Bull de conservadora não significa absolutamente nada – nem aqui, nem em qualquer lugar do mundo.

Só para dar um exemplo de como é perigoso se apegar a estereótipos: a deputada federal Carla Zambelli, bolsonarista de carteirinha, postou um vídeo em suas redes sociais de Lewis Hamilton erguendo a bandeira brasileira após vencer o GP do Brasil de 2021. Na lógica do supracitado artigo, ela deveria ser fã de Max Verstappen, não?

Como já disse, não é nada edificante rotular pessoas ou grupos com base em meras antipatias. E que o sr. Rafael Lopes tem uma antipatia a Verstappen, isso é fato. Eu li um artigo seu listando as decisões polêmicas da FIA sobre o GP da Arábia Saudita, e todas elas apontavam benefícios a Verstappen. Como se Hamilton não tivesse atrasado o pelotão na primeira relargada para esfriar os pneus do rival em uma distância maior que a permitida e não deixasse espaço para Max na mesma. A FIA errou bastante o campeonato inteiro, mas os equívocos prejudicaram ambos os lados. Citar apenas o momento lucky dog conduzido porcamente por Masi – esquecendo que ele teve tempo suficiente para determinar a ultrapassagem de todos os retardatários na pista – sem falar dos erros que beneficiaram Hamilton alimenta uma narrativa falsa.

Por fim, vale outro esclarecimento. Helmut Marko já falou muita bobagem, mas está longe de ser o único integrante de equipe a fazer isso. Toto Wolff já expressou o desejo da realização de três corridas na China por temporada – uma ditadura que persegue minorias étnicas e religiosas de maneira brutal – e soltou uma pérola inesquecível ao culpar Verstappen pelo incidente em Silverstone. Quantos dos ditos jornalistas especializados demonstraram alguma indignação com as falas de Toto?

Lewis Hamilton, Max Verstappen, Toto Wolff e Christian Horner são seres humanos como nós. Erram, batalham pelos seus objetivos, têm sonhos e almejam a glória. Nem mocinhos, nem vilões. Seria interessante lembrar disso ao querer demonizar qualquer um dos supracitados. No caso da Red Bull, ela sempre foi o que é: uma equipe de F1. Nunca mudou. Apenas os haters saíram da toca ao não aceitarem o título de Verstappen.

 

Compartilhe esta publicação
Clique para Comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.