Entre em contato conosco

Fórmula 1

Segunda Bandeirada #22: Quem reclama?

Publicado:

em

Faz tempo que não vejo um vencedor ser tão relegado ao esquecimento quase total como George Russell. Não é a primeira – tampouco a última – vez que alguém consegue uma vitória na Fórmula 1 de bandeja, quando o líder quebra ou faz bobagem. Mas o britânico da Mercedes foi jogado no limbo das discussões – e atenções – depois da bandeirada final.

E tinha como ser diferente? Nenhum pouco. Todos queriam saber, opinar e arrumar confusão acerca do entrevero entre Max Verstappen e Lando Norris. Os dois já proporcionaram disputas pela vitória numa temporada tida como perdida no Bahrein – perdida pelo domínio previsível da Red Bull que não acontece da maneira que se imaginava. Mas a briga entre ambos na Áustria foi além de qualquer coisa já vista entre ambos.

Para começo de conversa, vamos aos fatos. Não há como discutir sem partir de denominadores comuns que coincidem com a realidade. São eles:

 

I. Norris jogou Verstappen para fora na volta 63 ao fazer a curva como se não tivesse ninguém do lado. A disputa estava dura até esse momento, mas aí a coisa desandou de vez.

II. Verstappen fez algo bem pior na volta 64: espremeu Norris ao mudar a trajetória na freada e não deixar o mínimo espaço para o arquirrival. Manobra completamente descabida e inconsequente que alijou ambos da briga pela vitória.

III. Ambos foram punidos por motivos diferentes de maneira justa.

 

Agora, a minha visão sobre os acontecimentos. Como o grande campeão que é, Verstappen não deveria ter feito o que fez. Além de angariar ainda mais a antipatia de parte do público e a fama de piloto sujo, a manobra foi de uma falta de inteligência ímpar, já que Norris saiu da pista na volta anterior e seria punido com cinco segundos – e de fato foi. Todos conhecem a sua impetuosidade, a gana pela vitória e o espírito competitivo, mas isso foi burrice pura e simples. A vitória estava na mão, era só ficar na pista e não colocar tudo a perder numa atitude totalmente intempestiva.

Norris não tinha muito a perder e poderia arriscar mais – como de fato fez. É aí a fechada de porta de Verstappen fica ainda pior: ele é um tricampeão, terceiro maior vencedor da história, dono de recordes incríveis. Você espera essas coisas de pilotos abaixo da crítica ou que brigam por vitórias e títulos pela primeira vez, não de um piloto já tarimbado como ele. Com todo respeito, não dá para comparar ambos os envolvidos nessa história – e por isso mesmo se espera mais de quem é maior e melhor.

A manobra foi suja e pouco inteligente, fato. Mas também não vamos ser hipócritas: todos os grandes campeões da F1 – sem nenhuma exceção – já fizeram isso. Não vale apontar o dedo para Verstappen, cobrar dele uma pureza nas pistas, xingá-lo e ter outros campeões na foto de perfil – como foi o caso de muitos que vi. Quando essas pessoas descobrirem que Senna fazia o mesmo ou até pior, entrarão em parafuso. Entre o antipático holandês e o imaculado brasileiro há uma distância quase inexistente.

Quanto a Norris, ele fez o que faz quando tem carro para brigar por algo. Aquela sua falsa pusilanimidade alimentada por quem parece não acompanhar a F1 era balela e nada mais. Não foi o próprio que fechou Verstappen na largada em Barcelona? Não foi ele que jogou o tricampeão para fora da pista antes de toda a confusão? Eu nunca comprei essa narrativa tosca. Norris demonstra talento e gana pela vitória há tempos. Quem cobra mais agressividade dele não pode reclamar quando entreveros como o de ontem acontecem. É o preço que se paga por levar o desejo de chegar no topo até as últimas consequências.

Como coloquei, ambos foram punidos de maneira justa. Mas sempre tem algum enragé para bradar que Verstappen é protegido pela FIA. Não sei de onde essas pessoas tiram tal conclusão ou com qual base falam isso. Meu dever como jornalista é trabalhar com fatos e emitir as minhas visões com base na realidade. Essa choradeira cansa. Vamos colocar as coisas em outro nível.

E, quem sabe, dar o devido valor que as coisas realmente importantes merecem. Azar de George Russell, o vencedor inesperado. Mas quem reclama quando vence? Certamente não será o caso dele.

 

Foto: Reprodução – F1/X

 

Compartilhe esta publicação
Clique para Comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.