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Fórmula 1

Segunda Bandeirada #19: Incomparável

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Antes de falar qualquer coisa acerca do Grande Prêmio de Mônaco, faz-se necessário colocar os pingos nos is e dizer o seguinte: quem pensa que tirar a pista do calendário é a melhor escolha não terá a mínima razão ao reclamar quando o Liberty Media ameaçar fazer o mesmo com circuitos tradicionais como Spa-Francorchamps ou Monza. Digo isso porque o público espinafrou – com razão – a modorrenta corrida de ontem, mas tirar Monte Carlo da Fórmula 1 é assinar o atestado de loucura.

Não brigo com os fatos: a corrida foi realmente monótona. O incidente envolvendo as duas Haas e a Red Bull de Sergio Pérez matou qualquer possibilidade de disputas. Sobre o incidente, alguns apressadinhos culparam o mexicano – como se aquele local fosse apropriado para a manobra tentada por Kevin Magnussen. Com a troca obrigatória de pneus realizada na primeira volta, o grid inteiro tentaria esticar ao máximo uma nova parada ou mesmo nem parar mais. A única possibilidade de ganhar posição, o undercut, virou pó.

Uma pequena digressão: Magnussen faz hora extra na F1. Quem reclamava de Mick Schumacher e comemorou os pontos trazidos pelo dinamarquês para a Haas deve estar se perguntando se valeu mesmo trazer ele de volta. Pelo jeito, não. O conjunto da obra fala por si.

Pois bem, volto a Charles Leclerc. Ele liderou a corrida do começo ao fim, foi perfeito e não cometeu um erro sequer. A vitória nas ruas do principado vai além da mera redenção na temporada ou a reafirmação do posto de melhor piloto da Ferrari. É a materialização de um sonho de infância, pois qualquer um que guie um carro de corrida quer vencer em seu país. Leclerc conviveu com erros, batidas, abandonos e estratégias mirabolantes da equipe nos cinco GPs passados. O dissabor mais impressionante deles foi em 2021, quando ele cravou a pole, mas bateu nos instantes finais da classificação e o eixo de transmissão quebrado não o permitiu largar na corrida. Absolutamente frustrante.

Estava na hora de vencer em casa. Mônaco é um circuito complicado, guia-se no fio da navalha e não há espaço para qualquer erro. Correr por 78 voltas numa pista estreita guiando carros enormes e pesados com chances reduzidas de ultrapassagem é um desafio enorme para os pilotos. Dito isso, é a casa de Leclerc. Ele já tinha deixado outras oportunidades escaparem. Com o melhor carro para a corrida e a posição de honra, era hora de sentir o doce sabor da posição mais alta do pódio.

Na hora que realmente importou, a classificação, Leclerc fez o que deveria fazer. Conquistou a pole position, a 24º da carreira. Cumpriu bem o seu papel e não deu margem aos concorrentes. A McLaren até teve um bom desempenho, mas Oscar Piastri e Lando Norris já sabiam que a pista não casava bem com as características do MCL38. Já a Red Bull veio com poucas expectativas para Mônaco e deu para entender o porquê – nem Max Verstappen conseguiu operar um milagre. Mercedes e Aston Martin decepcionaram mais uma vez e parecem carta fora do baralho. No fim, sobrou tudo para o dono da casa.

Aliás, a cena do príncipe Albert com os olhos marejados entregando o troféu para Leclerc é emblemática. Relembra-me o porquê do automobilismo ser um esporte diferente dos demais. É claro que o futebol mexe com as emoções como ninguém, mas uma corrida de carro tem a capacidade de envolver coisas, sentimentos e biografias de um jeito diferente. Totalmente diferente. Ganhar em casa depois de tanta luta é especial para qualquer piloto – ainda mais para quem tem uma biografia como a de Leclerc. Mas fazer isso guiando uma Ferrari é incomparável. Nem imagino o turbilhão de coisas que passava pela cabeça do monegasco – ele disse pensar no pai nas últimas quinze voltas, que infelizmente já faleceu e não viu a consagração do filho.

E o campeonato, agora que se tem uma distância relativamente curta entre Verstappen e Leclerc? Aí é uma outra conversa. No momento, não vejo a Ferrari com capacidade para repetir o desempenho de Mônaco em outras corridas – a não ser em pistas travadas como Hungria, Singapura e Zandvoort. Além disso, a McLaren parece ter mais carro que o time de Maranello, e nem estou contando com uma provável reação da Red Bull. É cedo para pensar em disputa de título, Verstappen continua favorito para o tetracampeonato. Mas não custa nada sonhar.

Como Leclerc sonhou um dia em ser piloto e ganhar em casa.

 

Foto: Reprodução/X/Scuderia Ferrari

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