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Fórmula 1

Quem te viu, quem te vê

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Nota: este artigo foi escrito em maio de 2021, quando eu publicava meus textos sobre Fórmula 1 em meu perfil no Medium. Como vocês sabem, a Ford estará de volta à F1 em 2026 ao fornecer motores para a Red Bull. Esclarecimento feito, boa leitura!

 

Sentado na calçada do comércio dos meus pais, conversando com meus amigos numa segura distância, vi um Ecosport parado bem na minha frente. Conversa vai, conversa vem, acabei por lembrar em certo momento de um Fiesta usado que meu pai comprou – um dos primeiros carros que lembro de ter andado na vida. Não ficamos muito tempo com ele: era uma máquina bem defeituosa.

Ambos os carros são da Ford, que anunciou sua saída do país no começo deste ano. Não quero entrar em detalhes acerca das motivações para tal movimento ou tentar pensar como os responsáveis pela medida – ainda não tenho a capacidade de ler pensamentos e, pelo jeito, nunca terei. De qualquer modo, posso dizer que é lamentável. Uma marca grande carrega uma história, ainda mais quando se trata de carros.

Como vocês gostam de ler meus textos sobre Fórmula 1, pensei um pouco a respeito da trajetória da Ford na categoria. É uma montadora que experimentou a glória e o fracasso, a ascensão e a queda, o regresso e a saída permanente – ao menos até agora. Dez títulos mundiais de construtores foram conquistados com os motores Ford empurrando tais carros exitosos. História não falta.

A Ford conquistou sete mundiais de construtores consecutivos. Foi um predomínio do Cosworth DFV, um motor V8 com potência e confiabilidade incríveis. De 1968 a 1974, as equipes campeãs tinham seus motores fornecidos pela marca americana. Algumas dessas conquistas são marcantes e merecem destaque: o bicampeonato de Emerson Fittipaldi – o primeiro piloto brasileiro a ser campeão na F1 –, de Jackie Stewart e um dos dois triunfos de Graham Hill. Vale a lembrança do título de 1970 conquistado por Jochen Rindt, o único campeão póstumo da categoria – ele era companheiro de Fittipaldi na Lotus e faleceu num acidente no circuito de Monza, mais especificamente na curva Parabólica.

Depois disso, veio a parceria com a Williams e os títulos de 1980 e 1981, sendo o primeiro acompanhado do mundial de pilotos – Alan Jones foi campeão naquela temporada. Mas nem tudo são flores: a montadora americana teve resultados decepcionantes com a Haas Lola em 1985 e 1986. Nada de vitórias, pódios ou poles. Para quem angariou tanto sucesso ao lado de equipes como McLaren, Lotus e Williams, era absolutamente vexatório.

Passada a frustração, a Ford fechou uma das parcerias mais marcantes da F1 ao fornecer motores para a Benetton. O time italiano virou um dos grandes da categoria e obteve sua primeira vitória nessa união com Alessandro Nanini, no Grande Prêmio do Japão de 1989 – sim, a famigerada corrida da discórdia. No ano seguinte, coube a Nelson Piquet levar a equipe ao lugar mais alto do pódio duas vezes: no mesmo Japão – a histórica dobradinha brasileira com Roberto Pupo Moreno em segundo – e na Austrália. O tricampeão venceu pela última vez na categoria no GP do Canadá 1991, após o famoso abandono de Nigel Mansell com a sua Williams na última volta.

Mas o ápice do casamento entre italianos e americanos estava por vir com um alemão. Coube a Michael Schumacher levar a Ford ao seu último título mundial de pilotos na F1 – embora o de construtores tenha ficado com a Williams-Renault. A parceria com a Benetton foi encerrada e a Ford enveredou pela categoria com a Stewart, time que abrigou Rubens Barrichello por três anos. Logo em seguida, a empresa decidiu ter a sua própria equipe: a Jaguar. Porém, como se sabe, a ideia não foi bem sucedida e a Jaguar nunca passou de uma eterna promessa, abandonando a F1 de maneira melancólica com direito a um toque entre seus pilotos – Mark Webber e Christian Klien – no GP do Brasil 2004.

Pois bem, a Jaguar foi comprada pela Red Bull e o resto é história. Desde então, a Ford nunca mais voltou. E, pelo menos até agora, não dá o menor sinal de regressar à F1.

Como já disse em outro texto, o tempo passa e nem tudo fica – verso de ‘’Sobre o Tempo’’, música da banda gaúcha ‘’Nenhum de Nós’’. A Ford não está mais na F1, saiu do Brasil e deixou suas respectivas trajetórias para trás sem a menor cerimônia. Quem te viu, quem te vê, Ford. Eu sou um apaixonado por carros desde moleque e tenho lá minhas lembranças da marca através daquele bendito Fiesta que meu pai comprou há treze anos. Quanto tempo.

 

Foto: Reprodução – racingonline.com.br/ Imprensa Ford/ media.ford.com/ Divulgação

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