24 Horas de Spa-Francorchamps: a história do clássico de Ardenas

Faltando poucos dias para a largada da maior corrida de GT do mundo, o “Vai Que Tô Te Vendo” estará presente nesta edição com uma cobertura exclusiva ‘in loco’ pelo jornalista e fotógrafo Vinicius de Oliveira. Ele trará todos os detalhes diretamente da lendária pista localizada em Ardenas, reconhecida como um dos circuitos mais desafiadores do mundo, Icônico autódromo que é palco das 24 Horas de Spa, corrida que carrega uma rica história. Este ano, a tradicional prova celebra seu centenário, e nada melhor do que conhecer um pouco mais sobre essa competição histórica.

Bélgica, 1924: nasce as 24 Horas de Spa-Francorchamps

Antes mesmo da Primeira Guerra Mundial, a Bélgica já sediava corridas nas Ardenas desde 1896, sendo a primeira prova em uma via pública fechada realizada em 1902. Em 1920, surgiu a ideia de criar um circuito ligando as estradas públicas de Francorchamps, Malmedy e Stavelot, em meio às montanhas florestais das Ardenas. A iniciativa foi concretizada pelo proprietário do jornal belga “La Meuse”, Jules de Thier, e pelo presidente do Royal Automobile Club of Belgium, Langlois van Ophem. O circuito tinha 14,982 km de extensão, e a intenção era realizar a primeira corrida no ano seguinte. No entanto, a prova inaugural da pista no dia 12 de Agosto de 1921 foi cancelada devido à falta de competidores, já que apenas um piloto estava inscrito.

Mas isso não desanimou os organizadores. Após algumas provas com motocicletas, o primeiro evento automobilístico foi finalmente realizado em 20 de agosto de 1922. Doze carros alinharam-se para o Grande Prêmio do RACB (Royal Automobile Club of Belgium), uma corrida de 600 km vencida pelo piloto local, Barão Raymond de Tornaco, dirigindo um modelo belga Impéria-Abadal. Apenas marcas belgas participaram da corrida, pois o regulamento representava um grande obstáculo para a participação de outras fabricantes.

Em 1924, os líderes da RACB decidiram realizar a primeira corrida de 24 horas no circuito, inspirando-se nas 24 Horas de Le Mans. Assim, em 19 e 20 de julho, nascia as 24 Horas de Spa-Francorchamps, que reuniu 26 competidores, a maioria pilotando máquinas francesas. O grande vencedor foi um Bignan 2L, pilotado por Henri Springuel e Maurice Becquet, que alcançaram uma velocidade média de 78 km/h.

Depois da estreia bem-sucedida, a prova não conseguiu se manter por muito tempo. Após a quebra do mercado de ações e uma edição decepcionante em 1933, a corrida não voltou ao palco de Ardenas de 1934 a 1935, alternando-se um ano sim e outro não até a última edição em 1938. Com o início da Segunda Guerra Mundial, todas as atividades automobilísticas foram interrompidas, incluindo as 24 Horas de Spa, que retornaram após a guerra em 1948, mas sem o grande prestígio das 24 Horas de Le Mans. Entre altos e baixos, a última edição ocorreu em 1953, como parte do Campeonato Mundial de Carros Esportivos da FIA.

O retorno, por Paul Frère

Apesar dos problemas e inconsistência na realização do evento, a prova retornou ao circuito em 1964 no traçado de 14,120 km, que permaneceu assim até 1978. O grande responsável por esse retorno foi o piloto e jornalista belga Paul Frère, uma figura de grande influência no automobilismo. Frère competiu na Fórmula 1, conquistando um segundo lugar como melhor resultado na categoria, justamente em Spa, pilotando uma Ferrari. Além disso, antes de se dedicar ao jornalismo, ele venceu as 24 Horas de Le Mans em 1960, também em uma Ferrari modelo 250 TR59/60, ao lado de seu compatriota Olivier Gendebien.

Com os modelos de turismo perdendo cada vez mais espaço em Le Mans, a ideia de reviver as 24 Horas de Spa para que as marcas pudessem competir com seus carros de produção era muito aguardada. Foi aí que Paul Frère, junto com Hubert de Harlez do Automobile Club of Belgium, realizou esse feito de grande sucesso. O evento atraiu mais de 50 carros inscritos, representando 15 fabricantes. Em 1964, Robert Crevits e Gustave Gosselin, a bordo de um Mercedes-Benz 300SE, foram os grandes vencedores.

Na comemoração do centenário, Paul Frère – que faleceu em 2008 aos 91 anos – será homenageado com um troféu que leva seu nome. Este prêmio será concedido ao melhor piloto belga do grid deste ano, que conta com 22 competidores.

Os grandes vencedores

A partir de 1964, as 24 Horas de Spa manteve-se forte até os dias atuais, eternizando grandes vencedores. Entre os pilotos, destaca-se o belga Eric van de Poele, com cinco conquistas em Ardenas, tornando-se o maior vencedor da prova em duas marcas diferentes. Em 1987, Van de Poele foi campeão do DTM pela equipe Zakspeed com um BMW M3, e no mesmo ano, dividiu o modelo com um time totalmente belga, composto por Didier Theys e Jean-Michel Martin, conquistando sua primeira vitória no clássico de Spa-Francorchamps. Seu companheiro Jean-Michel venceu outras três vezes (1979, 1980 e 1992), sendo o segundo maior vencedor ao lado de Thierry Tassin.

Van de Poele voltou a se consagrar com a BMW 318i em 1998 e venceu outras três vezes com a Maserati em 2005, 2006 e 2008 pela equipe alemã Vitaphone Racing Team. Com 62 anos, Van de Poele estará presente na grande celebração dos 100 anos em Spa, a bordo do clássico M3 com o qual conquistou sua primeira vitória, na corrida de clássicos da Heritage Touring Cup, que reúne modelos de 1966 a 2000 que fizeram parte da história das 24 Horas de Spa.

Claro, além dos pilotos, uma fabricante se destacou como a maior vencedora: a BMW. Com um total de 25 triunfos, a marca alcançou um patamar de prestígio, começando com a primeira vitória em 1965, conquistada por Gérard Langlois van Ophem e Pascal Ickx, irmão de Jacky Ickx, o lendário piloto belga que venceria no ano seguinte, trazendo à montadora sua segunda vitória com um BMW 2000ti. Neste ano, a marca de Munique busca seu 26º triunfo, com quatro carros na categoria Pro, representados pela WRT e pela ROWE Racing. A ROWE Racing, atual campeã, retorna com o trio de pilotos vencedores em 2023: Marco Wittmann, Nick Yelloly e Philipp Eng, no carro #98. Confira mais detalhes aqui.

Brasil nas 24 Horas de Spa

Esse ano o Brasil estará muito bem representado na maior corrida de GT do mundo. Augusto Farfus correrá pela ROWE no carro #998 ao lado de Da Haper e Max Hesse. Pedro Ebrahim é outro representante nosso que disputa pela primeira vez o clássico, também em um BMW no #991 da Century Motorsport em uma classe bastante competitiva, a Bronze, que chega a 24 carros. Ebrahim não disputa apenas as 24 horas, o piloto de 19 anos corre na GT4 European em outro BMW, o modelo M4 GT4 da Borusan Otomotiv Motorsport, formando dupla com Yağiz Gedik na classe prata.

A única conquista brasileira em Spa ocorreu em 1993 com Christian Fittipaldi, que competiu com um Porsche 992 ao lado de Uwe Alzen e Jean Pierre Jaries. Essa vitória foi histórica para a marca alemã, que não subia ao degrau mais alto do pódio havia 23 anos, desde o triunfo da dupla francesa Guy Chasseuil e Claude Ballot-Léna em 1969. Augusto Farfus, que irá competir na categoria Pro, tem a melhor chance de repetir esse feito. O piloto está embalado por um importante segundo lugar nas 24 Horas de Le Mans na classe GT, então não podemos descartá-lo de uma segunda conquista para o Brasil na geral.

Horários e transmissões 

A transmissão completa é realizada pela GT World Challenge Europe (em inglês). Na quinta-feira (27), apenas a qualificação será transmitida. Na sexta-feira, haverá transmissão do superpole e do warm-up. No sábado, além da transmissão usual, o Grande Prêmio exibirá a corrida ao vivo, totalmente em português, também no YouTube, não perca! 

Quinta-feira (27) 

Treino livre  06h20 – 07h50

Pré-qualificatória 11h30 – 10h30

Qualificação  15h50 – 16h56 (transmissão no YouTube)

Sexta-feira (28)

Superpole 10h45 – 11h15 (transmissão no YouTube)

Warn-up 15h10 – 15h40 (transmissão no YouTube)

Sábado (29)

Corrida 11h30 (transmissão no YouTube GT World e Grande Prêmio)

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